Nayra lays

Fartura de vida

Nayra lays
Nas caminhadas da vida
Prefiro andar descalça
O chão é quente pra nós
Mas juntas, somos água
Aliviam o peso
Elânia me ensinou
Ouvir minhas irmãs
É a maior demonstração de amor
O amor cura, e tá escrito
Bell hooks já falou
Transbordando dos poros
Na fuga da rotina morta, morna
Olhos testemunharam choro
Que derrete a dor
Derrete a dor
Choro por estar dolorida
Pela alegria, pelo cansaço
Na contramão de todo descaso
Entre nós, não existe o choro calado
E nós choramos
Choramos porque até o choro
Nos foi negado
Mas à dor não queremos estar fadadas, fadados
Descendentes não de escravos
Mas de seres humanos plenos escravizados
Seres humanos plenos escravizados

Quero viver
E não só sobreviver
Fartura de vida plena
Em essência
Nós merecemos
Fartura de vida inteira
Imensa, imensa

Eu consigo me lembrar
De dias negros
Até hoje são meus preferidos
Os mais bonitos
Elas me abraçaram, cantaram
Dona Jacira contou suas histórias
E nós sorrimos
E correu livre o choro enclausurado
Pela dureza
De toda a selva liberto pelo afeto
Silencio Sensibilidade de concepção
Em fértil terra
Em fértil terra
A arte que aflora
Dos ventres
Colore a quebrada
Sabedoria é preta
A magia é preta
Que me afastam
Da ignorância suicida
E me aproximam
De uma verdade instintiva
Dura
Mas necessária, etérea
Estar emocionalmente viva
É a prova mais escura
De que nesse sistema opressor
O ancestral
Ainda encontra brechas
Encontra brechas

Quero viver
E não só sobreviver
Fartura de vida plena
Em essência
Nós merecemos
Fartura de vida inteira
Imensa, imensa

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