João pestana e a ossada velha
Nícolas wolaniukSom de corda ressecada
Acompanhava de troça
A melodia sem faca
De longe, veio uma voz
Que fez da pedra serena
Pontuda rocha atroz
Assim era a cantilena
O anel que tu me destes
Era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou
Minha história, minha sanha
Não cabemos em choupanas
Sozinho, viajo montanhas
E me chamo joão pestana
E nos olhos, eu deponho
Em toda a gente que sonha
Algum pedaço de sonho
Dentro da minha peçonha
As palavras têm arestas
Que a saga do tempo aplaina
Qual a seiva secreta
Que tuas palavras encanta?
Tanta tripa seca e dura
Moribunda sem um manto
Costura de rendidura
Essa é a seda do teu canto
Congrega a ossada velha
Numa roda de ciranda
Sê o sangue de uma artéria
Sê defunto e sê criança
Tua clavícula pequena
Ainda me dá morada
Te percorre minha pena
Minha ponta de palavra
Não mais arraste cansado
O teu corpo noite afora
Fecha os olhos como lábios
Deito neles minha história