Pealo de cucharra.
Os pampeirosO dia era mormaçento
Eu, que não gosto de vento
Já levantei meio azedo
E louco por um enredo
Fui gritando com o tostado
Que pateava atravessado
Querendo negar o estribo
Qualquer mau jeito é motivo
Quando o santo tá virado. (declamado)
Nem aquentei a cambona
E no mais do que num upa
Fui à mala de garupa
Peguei a guampa de canha
E fiquei cheio de manha
Procurando a josefina
Não vê que a diaba da china
Inventou de posar fora
Gastei roseta de espora
No rastro desta malina.
Fiquei que nem touro alsado
Tranqueando de lombo duro
Na guampa não tenho furo
E sou índio meio touro
Para aguentar desaforo
Por coisas do coração
Se me criei como peão
Vivendo meio à trompaço
Não vou perder o compasso
Por china sem compaixão.
Pois quem se manda à la cria
E não volta mais pro ninho
Quem sempre viveu sozinho
Não estranha a solidão
Pois o potro redomão
Não se doma com buçal
Quanto mais índio o bagual
Caborteiro pros arreios
Ninguém me coloca o freio
Muito menos o buçal.
O amor é como o vício
Sempre enreda o cantor
Igual o cheiro da flor
Que perfuma a solidão
Por ter vivido em galpão
Tive tempo prá pensar
China com brilho no olhar
Tem fogo no recavem
Não se amarra em ninguém
Vive sempre a procurar.
E nesta vida campeira
Cada coisa em seu lugar
Deixa o vento soprar
E a china com seus caprichos
Prá isso existe o bolicho
Prá afogar as mágoas na canha
Pois o amor é como farra
Ninguém gosta quando acaba
Mais qualquer chinoca sabe
Quando o pealo é de cucharra.