Maria invisível
Paula cavalciukEla passa e lava
Ela leva incerteza e enxágua triste num balde
Com água
Ela cedo madruga
E precisa de ajuda
Mas não dá para esperar
E nem pode atrasar
No busão pra labuta
Chega quieta
Vai embora calada
Não mora na casa mas serve comida
E roupa lavada
Ela serve o almoço
Mas não senta-se a mesa
Faz seu prato solitário na cozinha e almoça sozinha
Até parece novela, o núcleo pobre da trama
Ninguém pergunta onde mora
Ninguém conhece seu drama
Mas ela é muito bem paga
Para cuidar dos meus filhos
Só não tem tempo pros seus
Mas isso também já não é problema meu
Mas num belo dia, maria faltou
Sem nem avisar, não atendeu celular
E o patrão descontou!
Onde já se viu?
Nos deixar na mão
O tanque tá cheio, a pia entupiu e tá sujo o fogão
Mas no almoço o jornal, que tragédia danada
Dizia que a própria polícia matara a mulher arrastada
Coincidência terrível, era nossa empregada
Lá se vai uma semana sem comida pronta e roupa lavada!