Paulo de carvalho

Com uma arma com uma flor

Paulo de carvalho
Nasci num país de silêncio e luta
E cresci rasteiro
(meu pão era curto)
Não vendi a esperança
Nem pedi meu preço
De tudo o que vi
Nunca mais me esqueço
Fui vivendo à força
De suor e fome
Vi levar amigos
Do meu mesmo nome
Nas balas da sorte
Tive a minha escola
Aprendi a vida na morte
Em angola
Numa lua cheia
Saltei a fogueira
Numa lua nova
Saltei a fronteira
Sofri um país
Calei a razão
Vendi minha pele em frança
Por pão
Calaram-me a boca
Cortaram-me o riso
Mas estava de pé
Quando foi preciso
Em abril, abril
Em abril-sem-medo
Vesti minha farda
Fardado em segredo
Em abril, abril
Em abril-sem-medo
Da raiva e na dor
Do suor sem terra
Deste dó maior
Do lucro e da guerra
Das armas em flor
Nasceram razões
Nasceram braços
Nasceram canções
Nasceram bandeiras
Da cor deste sangue
Que temos nas veias
Que temos na carne
Nasceu meu país
Meu país criança
Em abril, abril
Tempo de mudança
Meu povo, raiz,
Dum cravo de esperança.
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