Podora

Rádio-relógio

Podora
Abriu os olhos e encarou
Os digitos pulsantes que ditavam suas ações
A angústia o tomou e de um pulo esteve em pé
Sabendo bem que aquilo já bastava pra falhar

Olhou em seu armário com critério e escolheu
Um casco igual aos outros desprezíveis e vazios
E quis estar alheio ao que ele mesmo construiu
Ainda que o custasse abrir mão
Do que não viu

Fechou os olhos ao chegar
Qual cotidiano pode ser tão voraz?
Se recostou e esqueceu
Dali de seu refúgio não podiam lhe alcançar.

Secou as lágrimas e as louças do jantar
Lavou seu corpo despindo-se de todo sal
E quis estar acerca do que nunca aproveitou
Sabendo bem que aquilo já bastava pra sorrir

Arriscar pra que, se o destino é certo rumo ao fim
Melhor seguir o plano e me guardar dentro de mim

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