Quinteto tati

Rumba dos inadaptados (ou a morte do jovem contribuinte)

Quinteto tati
No quarto impecável, ao lado do corpo,
A carta, com um último artigo a sair no jornal de
Domingo,
No correio dos leitores,
Dizia assim: " Sou jovem,
Honesto, estudante, trabalho, sou pago:
Eu pago os impostos, as letras, os juros, da casa, dos
móveis, dos livros na estante, dos discos, dos filmes:
que hei-de fazer?
Eu vou ao cinema, eu leio poemas, gosto de ler!
Eu voto, eu escolho, eu olho nos olhos dos casos, dos
factos, das coisas concretas:
Eu não tomo drogas, não sou alcoólico!

Eu estou preocupado e um pouco dorido
Ao ver que em várias revistas adultos,
Ministros, artistas, nas entrevistas da tv,
Demonstram que os jovens são brutos, boémios,
incultos, autistas, não têm emprego, ou são arrivistas
e mal educados:
São tão depressivos, são tão destrutivos, que hei-de
fazer?
Com 23 anos já não faço planos: para quê?
Eu vivo da esperança na vaga mudança que nunca vai
acontecer:
Eu não tomo drogas, não sou alcoólico!

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