Tempos vândalos
Rafael saddiEu tenho os meus dedos nos pulsos
Dos jovens de espírito turvo
Os grandes amantes do mundo
Que transam nos becos escuros
E bebem e conspiram o futuro
Os jovens, meu bem
De olhares iconoclastas
Que descem seus pés das calçadas
Ocupam as ruas e as praças
Derrubam heróis e estátuas
E erguem no chão barricadas
E o tempo é vândalo
Não segue regras, não segue lei
Derruba reis
Não segue regras, não segue lei
Derruba reis
Ora, como você
Há jovens que nasceram velhos
Que morrem de medo do inferno
Que vivem tomando remédios
Julgando o errado e o certo
Do alto dos balcões dos prédios
Ah, o tempo, meu bem
O tempo destrói as fronteiras
Derruba impérios, igrejas
Arranca coroa e cabeças
Refuta ideias e crenças
Inspira novos poemas
E o tempo é vândalo
Não segue regras, não segue lei
Derruba reis
Não segue regras, não segue lei
Derruba reis
Ah, olha meu bem
Você acha que o presente
Por um motivo somente
O de existir realmente
O de ser ele o presente
Existirá para sempre
Mas olha, meu bem
O tanto que os homens viveram
Vê nosso mundo e nós mesmos
Somos assim tão pequenos
Um pequeno ponto no tempo
Se achando grandes eventos
E o tempo é vândalo
Não segue regras, não segue lei
Derruba reis
Não segue regras, não segue lei
Derruba reis
Ah, olha, meu bem
O que você chama vida
Não é bem a vida-viva
Não é bem mais que rotina
Vê não se move nem pisca
Ah! Já não pulsa ou se anima
E olha, meu bem
Olha essas suas ideias
Que todos julgam corretas
Que são tão sóbrias e retas
Que até parecem modernas
Já estão podres de velhas
E o tempo é vândalo
Não segue regras, não segue lei
Derruba reis
Não segue regras, não segue lei
Derruba reis
Olha, meu bem
Os homens que vestem a morte
Cachorros treinados para o choque
Que matam em nome da ordem
Que usam e abusam da sorte
Se achando grandes e fortes
Mas vê, ó meu bem
Toda dor tem sua dose
Tudo que é velho foi jovem
E eu vejo o novo no norte
Nas linhas e curvas da sorte
Dos jovens de mãos molotov
E o tempo é vândalo
Não segue regras, não segue lei
Derruba leis
Não segue regras, não segue lei
Derruba reis
Olha, meu bem
Tudo o que foi construído
Os muros dos nossos ouvidos
As lojas que vendem sorrisos
Os carros que andam nos trilhos
O branco na pele dos ricos
Mesmo o que soa infinito
A pátria, o patrão, o partido
A língua que ordena o juízo
Homem, mulher ou desvio
Ordem, governo ou vício
As rugas dos recém-nascidos
A glória do pão repartido
Depois de encontrado no lixo
Mesmo isso tudo que eu digo
Não terá nenhum sentido
Logo será esquecido
Não passará de vestígios
De um tempo em que homens feridos
Esperavam tempos mais vivos