Aqui não é o inferno
Rodrigo ligúrioEu entrei no barbeiro daquela ruazinha caída
Pulei a seção das peruas escandalosamente felizes
E fui direto pra sala dos aprendizes
E procurei o lugar mais perto da pia
Enquanto aguardava uma vadia com peitos de mentira
Tosar desajeitadamente uma sonolenta galinha caipira
E quando finalmente chegou a minha vez
Eu me dirigi a ela num tom calmo e cortês:
"Você me faria um corte de funcionário do mês"
Funcionário do mês
Funcionário do mês
Então disposto a mudar a minha vida
Eu fui até a agência de empregos 'Massa Falida'
E logo no primeiro dia consegui uma entrevista pra balconista
Num daqueles botecos baratos
Com a cozinha infestada de ratos
E nuvens de moscas nas torneiras de suco
E o teste era um torneio de truco
Enquanto os caras se espremiam entre os caixotes de ervilha
Um sujeito caolho fazia sinal de espadilha
Até que um baixinho com a orelha frita
Sobe em cima da mesa e grita:
"Esse teste é uma armação
Eu sei que o Lobisomem tem pistolão!"
Tem pistolão
Tem pistolão
Então disposto a mudar a minha vida
Eu entrei para o grupo de apoio ao suicidas
E logo na entrada fui obrigado a deixar a gravata e o cinto
Pra depois entrar numa espécie de labirinto
E quando eu achava que estava sozinho
Olhares famintos se abriam no meu caminho
E quando eu achava que ia chegar
Voltava sempre pro mesmo lugar
Onde sempre havia um macaco de terno
De corte moderno com uma placa dizendo:
"Aqui não é o inferno"
Aqui não é o inferno
Aqui não é o inferno