O glosador
Rolando boldrinUm outro pra ser doutor
Um nasce pra ser sambista
Muitos nascem sem valor
Eu vim ao mundo otimista
Nasci pra ser glosador
Cantando e contando histórias
Que é a sina do cantador
Gloso as belezas da vida
Gloso a tristeza e a dor
Gloso a esperança perdida
Gloso o perfume da flor
Gloso a amizade fingida
E a vida com desamor
Cantando e contando histórias
Que é a vida do cantador
Ao homem que faz a guerra
Ao que só fala de paz
Ao que promete e não cumpre
E diz que faz, mas não faz
Não pode dar minha glosa
Que é ferina e mordaz
Por isso é que eu vou cantando
Cantando cada vez mais
Ao que só canta protesto
Pensando em seu bem-estar
Toma bom vinho no almoço
Toma champagne ao jantar
Protesta de mentirinha
Não lhe interessa mudar
Por isso é que eu vou cantando
Que a vida é pra se cantar
Gloso a miséria e a fome
Gloso a riqueza também
Gloso quem tem automóvel
Gloso quem anda de trem
Pois neste mundo de surdo
Ninguém escuta ninguém
Por isso é que eu vou cantando
Cantando eu me sinto bem
Se a carapuça lhe assenta
Nesta glosa que eu fiz
Não fique contrariado
Com aquilo que a gente diz
Procure ser educado
Fingindo que está feliz
Eu vou seguindo cantando
E o povo pedindo bis
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