Minha vez (aetós)
Rosa cinéticadispensando reencarnação.
Renascemos um para o outro
creiam os outros ou não.
O passado, semente que não brotou.
Embrião que abortei
na clínica clandestina
do destino que forjei.
Enquanto aguarda a sua,
eu mesmo faço a minha vez.
Se porventura aguardo,
ao mesmo tempo em meu ventre
engendro e guardo mais outras três.
Da escravidão à lúdica lucidez
um longo caminho se fez.
Da escuridão à nítida nudez.
Olhos que de novo vêem
tudo pela primeira vez.
Deixo minhas vidas passadas
dispensando reencarnação.
Renascidos um para o outro,
Nossa eternidade dure ou não.
Pois o tempo é só um mito
no qual só acredito
na medida em que me ajuda, estende-me a mão.
Acredito no que invento.
E também no vento
que aventa mudanças
e de quebra me ensina
uma dança que já nasce tradição.
Se me curvo em retrocesso
e dou três passos para trás,
pego impulso, me arremesso:
triplo mortal pro presente.
E ainda digo entredentes:
__ Não serei morto
nunca mais.