Sá biá

Bruma

Sá biá
As vezes quando menos se espera
O fato passado da volta
Melhor
O fato passado volta
De súbito tomando chá de hortelã
E fumando o fato
O fato volta

Volta, com uma violência tão grande
Que eu vejo as cores ainda quentes
A queimar meus olhos
Tomando chá de hortelã

Avistei um objeto, os objetos
São carregados de fatos
Tocá-os é perigoso demais
Perigoso
Perigoso demais

Ai, pode trazer a tona uma lembrança
E até mesmo
Um ato ousado e secreto
Um desses atos que se pratica
Soturnamente
E são tão secretos e íntimos que alguém
Fraga, fraga, fraga
Flagrá-lo seria um crime imperdoável

Seria entrar numa parte profunda demais
Numa parte profunda demais
Numa parte
Que eu mesma escondo de mim
Um intimo que não se aplica

Por que a linguagem é limitada demais para dizer
Não se diz, apenas é
Misteriosamente
Foi embora daqui

A hora de dormir
Eu deveria ter tomado cuidado
E não ter ido embora
E não ter ido dormir tão vazia

Deitei na cama
E ela estava repleta de roupa suja
E ela estava repleta de roupa suja
E eu era parte delas
Eu era parte delas

Antes eu me sentiria parte delas também
Mas seria de um jeito bom
Eu diria
Sou parte das minhas roupas sujas
Por que assim o quero

Mas eu comecei a dormir vazia
E com o tempo eu me larguei ali

Como a música pode ser tão triste
Mesmo sem o ser?

O que se faz com carnes, dedos
Enfim

O que se faz?

Eu durmo vazia e quando não se pode mais dormir
Eu acordo

Eu durmo vazia e quando não se pode mais dormir
Eu acordo

E recomeço a encher o meu corpo
Recomeço a encher o meu corpo de veneno
Eu poderia cortas as minhas unhas, ver tv
Polir os móveis
Mas o que eu quero saber
É o que se faz lá no fundo
Bem no fundo, lá no fundo

Você tem que devorar
Sentir, descobrir, escutar
Coisas essenciais

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