Samuel Úria

Graça comum

Samuel Úria
Quero estar pronto a dizer: Não sei
Quero o conforto de não saber
Quero sobrolho interdito a citar a Lei
E ombro capaz de encolher
Estar rouco de plágio e de rum
Deposto da vala incomum

Quero ser franco a dizer: Fui eu
Quero-me aflito a afirmar quem foi
Quero ter queixo caído a ganhar o Céu
E dedo pra pôr onde dói
Estar solto pra ser só mais um
No indulto da Graça comum

O que nos cabe, o que calhou
Está reservado. Nem sei se vivo ou se sou, cessou

Quero dar tudo a dizer: Não há
Quero o espartilho de não haver
Quero ter mão de mendigo a puxar pra cá
E o senso de não merecer
Estar pronto a tomar mais nenhum
Placebo da cura de som

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