Sobrevivente moral

Lado zona oeste

Sobrevivente moral
Nildo
Uma cabeça desnorteada um fissurado, alienado com sangue no olho na busca de uma tragada
Essa é a rotina normal de todas as quebradas
Em mais uma balada nas periferias
O cenário é uma par de noia deitados na praça na brisa
A cada viagem uma parte dos seus neurônios indo pro espaço
Mais um alvo da polícia com o destino traçado
Um colapso na mente sofrimento pra família
Um velório antecipado apenas mais uma vítima

Alan
Pro sistema é apenas somente mais um velório
Agora é só esperar pra ver qual que é o próximo
Tem uma par de otário com os dias contatos
Com o seu óbito assinado
Tretado com sangue bom, queimado com uma par de ladrão
E pela polícia cercado tipo alguns safados
Que furtam roupas de varal de noite dos nossos vizinhos
Que já fizeram várias paradas erradas na quebrada
Esses são os alvos de gambés pra eles mostrarem serviço
Tipo um enquadro repentino
De preferência na madrugada uma cilada no meio da rua
Você encostado na viatura
Tomando borrachada na cara
E como deve pra eles argumentos não vale de nada

Nildo
Esse ciclo acontece em todas periferias
São Mateus, Vila Rica, Caucaia, Diadema, Campinas
Capriote, Ariston, Veloso, Mutinga, Itapevi
Tonato, Ana Estela e Jardim Maria Beatriz
Uma par de quebrada passando pelo mesmo sofrimento
Por andar usando calça larga, cabelo trançado é mau elemento
Eu já fui discriminado por fardado no meio da rua
Esses otários sempre chega e leva uma
O que se escuta dizer aqui
É que quem não deve não teme só que nossa real não é assim
Ou será que quem é do gueto já nasce devendo
Porque a polícia me discrimina há muito tempo

Alan
Essa sina de periferia eu não quero pra ninguém
Tomar borrachada na cara ser tratado como alguém
Que deve pra polícia que se pá está sempre na mira
Da viatura, ditadura, abuso na cara dura
Isso acontece com freqüência em muitas das nossas áreas
Mogi, Vila Dirce, Santo Antônio, Pirajussara
Capelinha, Planalto, Jardim das Pedras, Jandaia
Lado Leste, Norte ou Sul em toda e qualquer área, em toda e qualquer área.

Refrão
A nossa área não anda nada bem
Por causa da polícia nas ruas espancando a nossa gente
Na Zona Oeste sempre morre alguém
Vítimas da crueldade que acontece constantemente.

Nildo
Esse cenário macabro é o que aproxima todas as quebradas
Do Lado Leste, Norte ou Sul o que se vê é só treta errada
Abordagem pela polícia pedido de intera do viciado
E o restante da favela olhando pelo buraco do seu barraco todos assustados
Sem poder fazer nada, pois essa é a lei que predomina
Aqui sua vida pode ser perdida em uma esquina numa chacina virar notícia, arquivo de polícia
Infelizmente na realidade esse é o nosso dia a dia

Alan
E se não crer é só ver, assistir na tv as estatísticas não mentem
Mortes que trazem o terror é o que aqui sempre têm
O sistema patrocina a destruição da nossa gente
Capão Redondo, Genivá, Santa Teresa e Novo Oriente
Jardim Ebrom, Piquiri, São Rafael
Cipó, bocada da Sete, Taboão da Serra, São Miguel
Todo lugar que tem pobre se sobrevive dificilmente se vacilar esperto não andar é só pá, pá, pá
Estamos numa guerra civil há muito tempo se você não acredita confira e veja as estatísticas
A violência fica em toda parte uma par mano se tornaram vítima

Nildo
Bala perdida, tráfico na esquina é assim na periferia
Um dia a dia que só tem agonia tem sido assim nossa sina
Mas por causa da fé pode crer eu continuo a lutar
Sem me preocupar nem pensar se no final vai compensar
O importante é que o soldado aqui tem Deus ao lado prosseguir sempre iluminando a minha mente
Para que assim eu possa seguir sem medo do que vem pela frente.

Refrão
A nossa área não anda nada bem
Por causa da polícia nas ruas espancando a nossa gente
Na Zona Oeste sempre morre alguém
Vítimas da crueldade que acontece constantemente.

Alan
Desespero uma dor no peito num balcão de um hospital
Uma par de mano baleado e mães de família passando mal
A hora é de dor parece um filme de terror, inquietação
Muitos podem não acreditar mais é assim num hospital
Sonegação de socorros para todos os favelados
É assim que é nas quebradas e não importa o lado
Oeste ou Leste, Norte ou Sul
É caixão para todos nós não tem pá nem pum
Se vacilar já era um abraço

Por isso temos que ter passos que estejam no caminho certo ficar esperto
Usar atitude com consciência, coerência é esse o caminho
Pra quem na vida o ideal de no futuro ter um destino
Longe de falsos amigos aprendendo a sobreviver nesse mundo cheio de maus caminhos
Onde as pessoas não entendem o por que de tanto castigo

Nildo
Eu não sei o que há com o mundo aqui no gueto se vê atitudes
Que levam pessoas de bem a ficarem com sangue nos olhos onde o ódio
É o que vêm na mente infelizmente
E temos que ser sobreviventes desses acidentes que acontecem com a nossa gente
Me injuria ver nossas crianças já no inicio da infância sendo coligadas ao crime
Isso não coincide com aquilo que passa na televisão onde o vilão paga por tudo que fez
Aqui eu nunca vi isso acontecer eu vejo policiais nas ruas fazendo o que querem fazer.

Refrão
A nossa área não anda nada bem
Por causa da polícia nas ruas espancando a nossa gente
Na Zona Oeste sempre morre alguém
Vítimas da crueldade que acontece constantemente.

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