Ulisses submerso

Cadáver

Ulisses submerso
Quantos vermes passeiam
Pelo chão da minha madrugada
Eu acordei com fome
E na geladeira não tinha nada

Quantos vermes passeiam
Pelo chão da minha noite à fora
Havia um cadáver na minha cozinha
Comi-lo então sem muita demora

Agora é cadáver no almoço
É cadáver na hora do jantar
Cadáver cozido, assado, frito
Sanduíche de cadáver

Cadáver na ceia de natal
Cadáver é bom pra chuchu
Mamãe isso é um cadáver
Sou tão feliz, veja: sou um urubu

Um cadáver
Na mesa da sala
Depois que eu comi um cadáver
Eu não quero mais nada

Um cadáver
Na mesa da sala
Depois que eu comi um cadáver
Eu não quero mais nada

Depois que eu comi um cadáver
Eu não quero mais nada

Cadáver
Cadáver
Cadáver

Sonhei que dissecavam o meu cadáver
E acordei com os olhos rasos d'água
Mas ele ainda estava lá, sou tão feliz
Porque como cadáveres

Depois eu rôo os ossos
E os enterro sob o rosal
A putrefação da carne
Apetece a minha alma marginal

Um cadáver
Na mesa da sala
Depois que eu comi um cadáver
Eu não quero mais nada

Um cadáver
Na mesa da sala
Depois que eu comi um cadáver
Eu não quero mais nada

Depois que eu comi um cadáver
Eu não quero mais nada

Depois que eu comi um cadáver
Eu não quero mais nada

Cadáver
Cadáver
Cadáver

Ah ah cadáver
Ah ah cadáver
Ah ah cadáver
Ah ah cadáver

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