Lágrimas de uma mãe
Unidade racialAs brincadeiras ainda estão na minha lembrança.
Dias de chuva, dias de sol,
Não importava à hora a gente estava no futebol.
O tempo foi passando, idéias mudando,
Cada um pro seu lado, se aprofundado.
Caminhos diferentes, da área é o "tal".
Só anda nos "panos", roupas de marca normal.
Sonhos de criança que se perdem no tempo
E no lugar da ilusão é aplicado o veneno:
Ibope, dinheiro, mulher e fama,
Carros, moral, estatus e grana.
Carreira criminosa a um passo, muito fácil.
Curtir com a galera "tirar um barato".
Primeira vez deu certo, eu me arisco.
Toda profissão existe seu risco.
Moleque tá crescendo se acha até esperto
De sorriso estampado, boné estilo reto.
Assim o vejo conversando com os seus chegados,
Amigos de infância ficaram no passado.
Mais uma vez está ele com o ferro na mão.
A sua mãe em sua casa faz uma oração.
Mal sabe ela que seu filho não é como antes
E inocentes na mira estão nesse instante.
Só correria, mano, eu quero mais,
A "padoca" tá aberta mostrarei como é que se faz.
Cara esperto, sorriso aberto.
Sempre assim olha só o moleque cresce.
Diz ser homem, e não um pivete.
Cada vez mais se aprofundava
Quando os seus pais reclamavam virava as costas e saia dando risadas.
Essa é a vida, a vida continua.
Mas um irmão jogado nas ruas.
Infelizmente mais uma mãe que chora.
Infelizmente mais uma mãe que chora.
O caminho mais rápido nem sempre é o correto.
Dizem por aí que o mundo é dos espertos.
A escola já não interessava.
Conselhos de sua mãe, vei, nem de graça.
Se aprofundado cada vez mais
Sempre em frente sem olhar para trás.
Meter os ganhos, dinheiro fácil a toda hora,
Ganhava bodinhos na porta da escola.
Só curtição, maluco, veja só:
Cercado de mulheres sorridentes, chegados e pó.
Idéia do passado ficou pra trás só ilusão,
Ficar famoso e aparecer na televisão.
Minha ilusão agora é diferente,
É natural, então, você entende?
Outro dia depois da "lombra",
Fiquei pensando como entrei nessa onda.
Meus pais já não me olham na cara,
Minha mãe coitada nem se fala.
Vive pelos cantos sempre rezando,
Quando viro as costas cai em prantos.
É "foda" já não sei quem eu sou.
Mundo de incertezas já não sei pra onde eu vou.
O que fazer quando tudo é incerto
Tô confuso já não me acho tão esperto.
Vários manos subiram, outros caíram
Mundo animal, poucos choraram, muitos riram.
O que fazer? matar ou morrer?
Tô no jogo é pra jogar então nada a perder.
Se é cada um por si, sou mais eu.
Maluco aprontou de mais levou o que mereceu.
A caminhada continua não vou parar.
Só espero que deus possa me perdoar.
Essa é a vida, a vida continua.
Mas um irmão jogado nas ruas.
Infelizmente mais uma mãe que chora.
Infelizmente mais uma mãe que chora.
Efeito colateral agora vejo.
Só não entendo porque a vida é desse jeito:
Para um sorrir, muitos tem que chorar.
Uma dívida, muitas contas vai ter que pagar.
Na vida do crime só o dinheiro é amigo.
Tá aí o resultado que já era previsível:
Tá devendo um chegado, já está atrasado.
Paga logo ou então, vira finado.
Hoje o moleque tá nervoso.
É a chance que tem de sair do sufoco.
No desespero vai tentar a sorte,
Pode crê, véi, um mercado na norte.
8 horas da noite, não há hora melhor.
Tô com os meus chegados mas me sinto só.
Um vazio por dentro, minha mente viaja.
Se isso for a "lombra", logo, logo isso passa.
Dou um beijo na medalha da sorte.
Agora é só esperar o momento do bote.
O rosto da minha mãe não sai da mente.
A ansiedade é loca, mas tô consciente...
Mas dessa vez ele vacilou.
O vigia foi mais esperto e o acertou.
Seus parceiros, assustados, saíram "voados"
Ele ficou ali caído no chão.
Cadê seus amigos que se diziam irmão?
O socorro demora a chegar.
O tempo é curto, não sei se vai agüentar.
Uma bala disparada e acabaram seus dias de glória.
Só agora se lembra da sua verdadeira história,
Dos seus pais, dos seus amigos, dos seus irmãos,
Será que valeu a pena então?