Corpo
VarneySangra a sede que eu herdei
Sabe a mentira que eu contei
Cede ao sono que eu já sei
O corpo
Fantasma de meu próprio eu
Tempestade de quem se perdeu
Um sonho só do que é meu
Deixe-me voltar
Há uma mira em cada olhar
Deixe-me cortar
Há um sonho em cada mar
Sexo
Lábios tornam-se só pó
Em gotas de uma chuva só
Passado e presente a sós
Deixe-me voltar
Há uma mira em cada olhar
Deixe-me cortar
Há um sonho em cada mar
Deixe-me sangrar
Sou de pedra, sou sem lar
Deixe-me sonhar
Sou sua perda, seu lembrar
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo
Ele morrerá e eu morrerei
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos
A certa altura morrerá a tabuleta também
Os versos também
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta
E a língua em que foram escritos os versos
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos
E vivendo por baixo de coisas como tabuletas
Há em cada gota que chove
Há em cada estrofe que morre