Matei
Vicente celestinoEu sou um assassino,
Entrego-me à prisão,
Cumprindo o meu destino.
Estou arrependido,
De praticar o crime,
Deixa que lhe descrevo,
Senhor, como perdi-me.
Um dia apareceu,
Deitada à minha porta,
Uma mulher doente,
Faminta, quase morta.
Tratei-a com carinho,
Tornou-se tão bonita,
Foi minha companheira,
E hoje é minha desdita.
A ingrata me fugiu,
Não soube mais vencer,
Tornei-me até ladrão,
E dei para beber.
E quantas, quantas noites,
Ao me apertar o sono,
Dormia nas sarjetas,
Tal qual um cão sem dono.
E ela vinha em sonho,
Buscar-me com carícia,
Quando era despertado,
Nas garras da polícia.
Farto de sofrer,
Fui procurar o amigo,
Como último recurso,
Fui lhe pedir abrigo.
Negou-me, disse ainda,
Jamais o conheci,
Virou-me, deu-me as costas,
Quando uma voz ouvi.
Reconheci ser dela,
Na casa à força entrei,
Matei o falso amigo,
E a mulher que amei.
Estou arrependido,
Não terei mais conforto,
E desde aquele instante,
Eu sinto que estou morto.