O ladrão fabricado
Abimael gomesVendia aguardante e carninha na brasa.
É o que botava a feira prá dentro de casa.
Era a única fonte de renda da gente.
Final de semana, enchia contente
De espetinho, de carne, farofa e cana,
De refrigerante de coisa bacana.
Saí arrastando até a cidade,
Ia assobiando de felicidade,
Com fé em jesus que ia dar uma grana.
Chegava no centro, na curva da esquina,
Parava a carroça no pé da calçada.
E uma nuvem com cheiro de carne assada.
Chamava os indos e vindos das ventas.
Gritava: espetinho é um e cinquenta.
Freguesa, se achegue que tem muito mais.
Tem soda, tem coca e, é só dois reais.
Tem água com gás e tem aguardente.
É um pitbull, meu cachorro quente.
Mata sua fome e te satisfaz.
Mas, veja doutor o que aconteceu:
Estava entretido com a clientela
Olha a carrocinha! gritou uma delas.
E, quando olhei pegaram o que é meu.
Gritei suplicando pelo amor de deus.
Ainda assim mesmo não tiveram pena.
Pegaram a carroça sem dó.
Jogaram em cima da carroceria.
Dali para frente o que eu faria.
Por necessidade veja no que deu.
Sou pai de família tenho oito filhos.
Que faço agora prá dar de comer?
O mais velho tem oito o mais novo é bebê.
E a mulher espera o de número nove.
Bateu desespero peguei o revolver.
Fui pego em flagrante, cumpra seu dever.
Que minha história sirva prá poder,
Mudar ou servir de reflexão,
Pra os homens que fazem a constituição,
Levarem em conta o povo no poder.
Já vendi relógio, antena de tv,
Sombrinha no inverno, raibam no verão.
Prá sociedade, hoje sou ladrão.
Levo esse sobrenome enquanto viver.