Vícios de covil
Acceptus noctiferse bem que o meu sentir, espavorido, fuja
desse perverso olhar, desse clarão que suja as almas
e envenena a flor do ideal...
Que vós não tendes alma, apunhalou-a o vício
nas cenas do deboche, às horas dos anseios...
D'há muito que o amor fugiu dos vossos seios,
e o vosso amor d'agora é um amor de ofício!
Por toda a parte encontro a vossa graça espúria
no mesmo tom banal de gestos imprudentes.
Abrindo a suja boca em risos indecentes,
para a fechar em beijos de luxúria!
O vosso ar ilude, o vosso busto chama,
escandalosamente, o vosso todo atrai...
Porém a sedução a breve trecho cai,
porque lhe falta a graça ingénua de quem ama...
Ou seja numa alcova ou seja num casebre,
o vício bestial, ó pálidas estátuas,
depois de vos gozar numas carícias fátuas,
concedo-vos somente as podridões e a febre.
Desenha-vos na face, encerra-vos na testa,
as rugas que colheu nas noites mal passadas.
E vai por essa vida a rir às gargalhadas,
do lívido desdém da rara gente honesta...
Não pára um só momento, abrange o mundo inteiro.