A janela do peito
André baptistaEssa garota que fui eu, sempre a sorrir
Como se a vida fosse eterna primavera
E não houvesse dores no mundo p’ra sentir
As gargalhadas vêm poisar na janela
E ao ouvi-las tenho mais pena de mim
Ai quem me dera rir ainda como ela
Mas quando rio, eu já não sei rir assim
Tenho a janela do peito
Aberta para o passado
Todo feito de fadistas e de fado
Espreita a alma na janela
Vai o passado a passar
E ao ver-se nela, a alma fica a chorar
Neste desfile que passa
Fica a saudade sozinha
Até a graça, perdeu a graça que tinha
Desilusões as que tive
Enchem a rua, lá estão
E a gente vive dos tempos que já lá vão
Lá vem gingando nesse seu passo miúdo
Melena preta, calça justa afiambrada
Como mudamos, tu que foste para mim tudo
Hoje a meus olhos pouco mais és do que nada
Tuas chalaças de graçola e ironia
Eram da rua, andavam de boca em boca
Eu, era ver-te não sei o que sentia
Talvez loucura, que por ti andava louca
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