Coco da lagartixa
Antonio nóbrega- redondo sinhá,
E ela era comportada,
- redondo sinhá.
Saía à boca da noite,
Chegava de madrugada,
Com a saia na cabeça,
Soluçando embriagada.
Com a saia na cabeça,
- redondo sinhá,
Soluçando embriagada.
- redondo sinhá.
Eu vi outra lagartixa
Num coco de embolada,
Negava ser mulher-dama
Mas depois de três bicadas
Me pegou assim d'um jeito,
Me matou de umbigada!
Eu vi uma lagartixa,
Ai, estava na janela,
Ai, dizendo que era honrada,
Que era moça donzela.
Vi quatro calangos verdes:
Todos eram filhos dela!
Eu vi outra lagartixa,
Essa era uma senhora.
Passava a noite no samba,
Cachimbava a toda hora,
Dizia pro seu marido:
"é duro trabalhar fora!"
Eu vi uma lagartixa,
Que na lagoa morou.
Que sonhava ser princesa
Por um sapo apaixonou-se,
Beijou ele a vida inteira:
Ele não desencantou!
Eu vi outra lagartixa
Tomando banho de açude.
O açude estava cheio,
Fui banhar-me mas não pude,
Ela sujou toda água,
Ainda ficou cheia de grude!
Eu vi uma lagartixa
Enganar pato e guiné,
Teve um filho de uma pulga,
Outro de um bicho-de-pé,
Doze de uma cobra d'água,
Vinte e três de um jacaré!
Eu vi outra lagartixa
Que queria se casar.
Me pediu em casamento
Mas mamãe jurou não dar.
Ela fugiu com papai,
Suas filhas eu fui criar!
Eu vi uma lagartixa
Ai, estava no meio da feira,
Tinha pra mais de cem netos,
Jurava que era solteira.
Perguntei a sua idade,
Me negou a vida inteira!
Eu vi outra lagartixa
Na varanda de um sobrado,
Ela estava namorando
Junto com seu namorado,
Assentada na cadeira
E o rabão dependurado!
Quem 'ver' uma lagartixa
No sertão, mata ou no mar,
Entregue logo pra ela
Um pandeiro ou um ganzá,
Que ela canta esse coco
Do jeito que eu ouvi lá!