Filho de mato grosso
Biá e dino francoNunca engoli um caroço e nisso puxei meu pai
Se escuto algum desaforo, eu olho à frente e atrás
Pode ser até meia dúzia que sem resposta não vai
Eu já dormi no relento, já vi o dia amanhecer
Já passei o dia inteiro sem ter um pão pra comer
Já levei tanta pancada sem saber me defender
De tanto padecimento foi que aprendi a viver
Me apincho em qualquer parada, nem deixo a vida correr
Não tenho medo de nada, não sei quando vou morrer
No lombo de um burro brabo sou um saci-pererê
Eu saio do lombo dele só depois que resolver
Já fiz tudo neste mundo porque cismei de fazer
Só não fui um vagabundo, o que ninguém deve ser
Tem um ditado que diz, eu não posso me esquecer
Água mole em pedra dura faz a pedra amolecer
A minha vida é um romance tão grande da gente ler
Que cada dia que passa é uma folha pra escrever
Tem folhas que são alegres, tem outras de entristecer
Tem uma que eu não escrevi pra levar quando morrer
Tem uma que eu não escrevi pra levar quando morrer
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