Sobradinho da cartomante
Cristian de freitasEu tenho que estar lá às dez da noite
Virei freguês de bola branca e transparente
E a fumaça chegou a me desnaturar
E todo o dia essa lida não me cansa de esperar
Ao seu encontro, vou alegre jovial
Por que não dizes o que a vida tem pra mim?
Vou me embrulhar em um cometa passageiro
Na tua seda enrubescida vou me embriagar
E embriagado vou embora para que o meu sangue escorra
Mas se um dia ou por uma noite eu aqui voltar
Será pra ler o teu destino com uma faca
Cravas teu colo uterino no meu tíbio
E do sobrado, vou caindo devagar
Dê-me um beijo com o mal que tem dentro de ti
Beije-me sempre devagar
Tenho dois maços de diamba feitos com folha de jabuticabal
Não me importo nenhum pouco se for bom ou se é ruim
O que eu queria era ter um espaço vago no meu tempo
E nesse espaço, encaixar você pra mim
As pernas brancas encostando-se à libido
Parecem dois colibris velhos e abismados
E a promessa da tua carta de maga
E a tua voz decifrando toda minha saga
E o teu corpo caminhando não afaga
E eu tenho a esperança que um dia tudo se apaga
E eu possa ter de novo a minha paz roubada por você
E o meu achego prochegante há de desvairar
Essa concórdia que em mim insiste em permanecer
Transam borbulhas de uma solidão cicatrizada
Mas hoje o tudo que tenho é quase nada
A borborema viu-se até na minha estrada
Não sei por onde caminhar
Espumei frígidos tilomas com fanais de escuro
Rasguei brevês que o fadário consentiu pra eu ver
De nada adiantará se eu estou atraído
Por suas íris de uma cor indistinguível
Meu pranto hoje se faz fútil e consolador
Perdi a vida pro amor
Cravas teu colo uterino no meu tíbio
E do sobrado, vou caindo devagar
Dê-me um beijo com o mal que tem dentro de ti
Beije-me sempre devagar
Beije-me sempre devagar