Pé no estribo
Fabiano bacchieriQuando eu era piá de estância
Guri de cuida cavalo.
Eu assobiava uma marca
Quando cantavam os galos,
Tirei pra mim aquele potro
Um não vinha sem o outro
Cortando a vida em astilha.
O resfolego do pingo,
O sono encima da encilha,
Era um abraço a lo largo
Prá dois loco sem família.
No lombo do meu cavalo
Tive os mais lindos regalos.
Um dia uma lei da estância
Mando vende o meu amigo
Desde então ninguém me vê,
Enforquilhado no estribo!
Um dia partiu o pingo
Se foi não me lembro quando,
Fiquei banido lá fora
Era um bandido sem bando,
Eu era um pé sem espora
Com a vida me atropelando.
Saia e bebia uns vinho
Prá ver a vida voando
Te via pelo caminho
Perdido me procurando,
E não tem nada mais lindo
Do que um amigo voltando.
Por isso digo aos meus dias
Que escorrem pelo gargalo
-vou viver com o pé no estribo
Quando encontrar meu cavalo!
Cismo e proseio solito
Quando uma gana me puxa,
Uma saudade avoenga
Me atenta, se faz de bruxa,
Mas só quem teve um cavalo
Conhece vida gaúcha!
A cerca guarda no grampo
Alguma crina de cola,
Gaúcho não anda a pé
Se anda não se consola,
Até a lembrança do potro
Me deixa um tanto pachola
O potro era da fazenda
Reiuno mesmo só eu,
Que passo a vida encilhando
Cavalos que não são meus,
E quando ganho um relincho
Lhes digo, -graças a deus!
Por isso digo aos meus dias
Que escorrem pelo gargalo,
-vou viver com o pé no estribo
Quando encontrar meu cavalo!
O patrão vendeu o potro
Como quem apaga um pucho,
Um peão nunca diz nada
Sentir saudade já é um luxo
Anda um cavalo esta hora
Com saudade de um gaúcho
Me deixem seguir buscando
Por estes campitos ralos
Dormir encima da encilha
Só pra acordar com os galos
E andar cantando o rio grande
Só pra esperar meu cavalo!
Por isso digo aos meus dias
Que escorrem pelo gargalo,
-vou viver com o pé no estribo
Quando encontrar meu cavalo!
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