Memórias em cruz
Jadir oliveiraAssistiu solita e calada
A Pátria sendo formada
E sua evolução
Quando tronou o canhão
A nação estremeceu
Santa Cruz não pereceu
Para que o futuro soubesse
Porque o índio padece
O pouco que não morreu
Quem sabe até foi trincheira
De um mercenário tirano
Que matou algum hermano
Numa mirada certeira
Na capital missioneira
Como se inimiga fosse
Mas a cruz nunca curvou-se
Até hoje está altiva
Mantendo a memória viva
De um povo que dizimou-se
Quando o sol numa centelha
Por entre seus braços vara
A sombra espicha, dispara
Deita na terra vermelha
Como alguém que se ajoelha
Meditando numa reza
Pedindo à terra que preza
Que nunca mais se repita
Aquela guerra maldita
Com morte, o que mais despreza
De pedra fria é a cruz
Solita lá no relento
Ouve no assobio do vento
Quando a noite engole a luz
Voz do povo de Jesus
Que morreu por ter querência
E por ela uma consciência
De não deixá-la por nada
Ficou só a cruz plantada
Pra toda a nossa existência
Quem somente pedra vê
Tem no peito uma frieza
Vivendo na incerteza
Sequer em seu mundo crê
Não tem consciência nem lê
Em livro jamais escrito
No verso menos bonito
Que não ganhou corredor
Só a voz de um pajador
Que guitarreia solito