...sobre o mar...
Juliano buteco
Sobre o mar infindo sinto-me acolhido.
Sinto-me velado pelo absoluto.
É como se eu descansasse
nos braços de uma entidade superior,
além da secular e perene humanidade.
No oceano tudo se dilui.
Dores e lamentos submergem
no precipício fundo do começo sem fim.
A vontade de atravessar a nado
o que é inalcançável
me arrebata o oceânico coração.
Que a tudo vela, sela, cala.
Antes poder percorrer, flutuar,
mergulhar na secreta fluidez
do que me entregar à estática ilusão
que me arrebata a carne.
A alma içada percorre os sonhos
que não me lembro.
Conduz-me sem rosa dos ventos
às ilhas inalcançáveis,
projetadas no errante navegar.
E no naufrágio me acho,
envolto às sombras que me trazem a luz.
Encoberto na soberba solidão
que descansa na minha sincera imperfeição.
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