Soneto parágrafo
Loungetude 46Estão todos banhados em óleo,
Jogaram-se dentro da máquina
Arranhões nos braços e pernas
E ninguém carrega isqueiro,
Mas todos fumam como loucos
Ao que as árvores balançam
Expulsando pássaros
E derramando frutos.
Se a brisa é o inverso da ventania
E o ar que respiramos nos pertence,
Por que a expiração sempre nos vence
Se não existe mente fraca nem vazia?
Se apenas uma perna nos segura
E alçar vôo é só o sonho de uma pedra,
Imaginem seu retorno em linda queda,
Inflando, delicada e prematura.
Conheço a natureza do concreto,
Dos micróbios e das placas de trânsito,
O que difere o ser humano de um inseto.
Também conheço o outro plano,
Dos automóveis com rabo de peixe,
O dia que amanhece por engano.
Mas a máquina não para,
Trabalha cuspindo a honra dos homens.
Não existe mão-de-obra, só o que há é matéria-prima.
O aço cobre a nudez
E toda gravata é aparafusada diretamente no pescoço.
Vistam suas máscaras!
Sejam bem-vindos ao mundo gasoso,
Onde se come poeira
E se bebe petróleo.