O assobio da cobra
Manuel paulo
Às vezes, fico tenso,
Fico "penso, logo é triste"
Fico sem voz e sem gosto
Com vontade de morder
As tuas maçãs do rosto
Até chegar ao caroço.
Ser o arrepio do osso,
Cobra de água de cisternas,
Subir pelas tuas pernas,
Provocar um alvoroço
Fico "penso, logo é triste"
Fico sem voz e sem gosto
Com vontade de morder
As tuas maçãs do rosto
Até chegar ao caroço.
Ser o arrepio do osso,
Cobra de água de cisternas,
Subir pelas tuas pernas,
Provocar um alvoroço
Ser o dono da risada,
Do ai-ai, não digas nada,
Que eu tropeço na vontade
Mando às malvas a prudência,
Ganho fama na cidade
Mas acabo mastigando,
Remoendo e relembrando
O sabor da existência
Ás vezes, fico leve,
Fico "penso, logo é breve"
Fico solto de alegria
E as tuas maçãs do rosto
Penso, logo já mordia!
É o assobio da cobra,
Que se dobra e se desdobra,
Na redonda melodia
E tu dizes "já sabia!
Já sabia que caía"
No mar da tua risada,
No ai-ai, não digas nada,
Que eu tropeço na vontade,
Mando às malvas a prudência,
Ganho fama na cidade
Mas acabo mastigando,
Remoendo e relembrando
O sabor da existência
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