Mário silveira

Poema do fim

Mário silveira
Já se são dez do mês e já passam das quatro
É abril
É, abriu

Eu bem quis, por teimoso que sou, segurar os ponteiros do relógio
Mas são muitos relógios no mundo aflitos vomitando tempo - o tempo todo -
Eu bem quis, por berro, lástima e soluço, desistir da ida
Mas dona ida é um senhora certa, e, não fujo, dona ida me acertou

Por que os homens grandes me diziam para o não fazer?
Eu preciso chorar!!!

Calado e só, na praia, não soube mais o que era lágrima ou o que era mar
Então, deitado n’areia triste à beira d’água
Eu bati o pé. Chão já não tinha
Nada lá tinha
Nada se não o sempre infindo horizonte
Eu o olhei, vi que não tinha ninguém e o molhei

O sol azul de amar queimava-me
Só o azul do mar eu tinha
Só o azul do céu eu tinha
Só o azul

Não tinha amigos, não tinha mãe, não tinha música
Alunos não tinha, luar não tinha, paz também não
Nada lá tinha
Só eu
Eu, só
E o que sou eu?
Grão de areia ante o calçadão?!
Gota de lágrima emergida no oceano?
Sou eu esta lágrima viva que cai
Esta onda que levemente se desfaz na beira d’areia?
Ou sou mar, este todo?
Eu sou, quiçá, saudade, lembrar
Sou uma casa escura em noite sem lua
Há ali, sapos a cantar
Quem eu sou não sei, não fui, não vi
Sei que eis-me

Eu

Quem vai ouvir minha ensossa poesia
E minha voz rouca cantar?
Onde estão as pessoas?
Onde está o mundo?
Quem vai me ensinar?

Sou palhaço medroso
E temo só estar
Quais mãos, braços e peitos irão me abraçar?
Amigos, caminho
Vou sem nada rumo ao tudo que sonhei
E sem nada, vou nadar
Onde estão todos?

Sei que um dia vou querer ler drummond
Na pedra?
No mar?
Onde?
Quem vai parar pra escutar
Um palhaço apaixonado por letras
Por gente, por mar?

Muitas portas se fecham em abril
E quem sabe qual outra abrirá
Será a dor certa? Ou é felicidade?
Eu não sei. Não sei. Mas vou

Pra minha vitória ou derrota
Pra pausa ou continuidade
Não sei se estou morrendo de lembrança
Ou vivendo de saudade

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