Os olhos da cara
Mauro aguiarMas como fujo de mim mesma, às vezes finjo
Com outros olhos quase cegos de desejo
Desvendo atalhos no teu vesgo esconderijo.
E finjo ver além do olhar
Alheia aos teus olhares
Antevivendo o que nem será
Clarividência tonta
Em câmera lenta entrar no meu faz-de-conta
Fazendo uma coisa certa
Daquela maneira estulta
Para quem sabe assim me encontrar
Amando à queima roupa
E já sem pestanejar com os olhos da outra.
Canso de escolher
Ângulos de ser
Pelas escotilhas dos meus olhos de mulher
Mas se eu te disser
Que é melhor não ter
Olhos de mulher
Quando vens me ver?
Entrando em cena sem me mostrar
Meu coração dispara
Não para de interpretar da boca pra fora
E sigo trocando as falas
Por cima das horas ralas
Arquitetando um filme no ar
Só de seqüências raras
Que me poderá custar os olhos da cara.
Tento imaginar
Outra direção
Mitos em minutos vão do topo ao rés do chão
Mas se eu te mostrar
O meu coração
Quando vais voltar
Onde os sonhos dão?
Enquanto tento em vão te enxergar
De uma improvável grua
A minha desilusão desaba na tua
Dançando numa penumbra
O olho desacostuma
Mas se a mentira enfim vislumbrar
Uma verdade crua
Aí só me restará o olho da rua.