Boitatá
Paulo andré barataA cobra do fogo, o fogo quem dobra
O facho de fogo que é falso, que é nada
Que é coisa, que é fátuo, que é alma penada
A cobra de fogo que baila na lama
A chama que corre, a coisa que chama
A chama da cobra na mata parada
A cobra que corre, a chama assombrada
O fogo da coisa, o facho vadio
A cobra de fogo que mora no rio
A sucurijuba, a paranambóia
Boikira, boipeba, boiúna, jibóia
O facho da cobra, o fogo partido
O lume azulado da cobra-de-vidro
A toca da cobra, que é dágua, é morada
Tatá, mãe-do-fogo, da cobra encantada
O fogo da cobra que, à noite, flutua
Da coisa que é filha do sol e da lua
Do mano e da mana no coito do mato
Nasceu cobra-grande, cainana, norato
Da alma, menino pagão, que passeia
No escuro das águas, da mata, da aldeia
Pepéua, manima, urutu, mussurana
Angüera, taúba, tutu, caruana
O fogo que corre, a coisa que dobra
A cobra da água, o fogo da cobra
Duende de fogo, só coisa só ente
Só cobra, só mito tupi, só serpente