O catador de lixo
Plínio ruasEu cato do chão, tudo isso vira o meu pão
Cansado, mas minha vida escorre entre os dedos nessa direção
Me corto em latas
Caco de vidro, corte seco em qualquer navalha
Mas as migalhas que vê, são meus motivos pra crer
Faz um tempo bom
Que não deito num colchão, irmão
Sacrifícios não
Serão todos em vão
Paz e amor, por favor
Que eu não tô de bobeira
Eu não saí pra passear no shopping
Nem vou tomar uma na sexta-feira
Veja a dor, por favor
Que eu não tô de bobeira
Eu vou sair pra pegar mais esmola
Eu vou trocar pelo pastel da feira
Farol do carro bateu em mim
Pra me notar só se for assim
Jogado na rua, interrompendo tua fuga
E alguns segundos roubo o seu olhar enfim
Talvez pudesse dizer um oi
Mas num relapso o gentil se foi
Soltando aos berros alguns dizeres severos
E escarrou todo seu nojo em mim
Como se fosse infectado ali
Paz e amor, por favor
Que eu não tô de bobeira
Eu não saí pra passear no shopping
Nem vou tomar uma na sexta-feira
Veja a dor, por favor
Que eu não tô de bobeira
Eu vou sair pra pegar mais esmola
Eu vou trocar pelo pastel da feira
Faz um tempo bom
Que não deito num colchão, irmão
Sacrifícios não
Serão todos em vão