Ramão missioneiro

Chico toro

Ramão missioneiro
É certo que teve pai,
Teve mãe, lar e afeto.
Por ser meio analfabeto
Não culpo mãe e nem pai.
É como fruta que sai
Minguada, flor temporona.
Veio ao mundo de carona
E de carona se vai.

Foi batizado a capricho,
Cinco ou seis velas “acesa”.
Do povo da redondeza
Ganhou padrinho e madrinha.
Daquele jeito que vinha,
(Sem força nem pra chorar)
Do Chiquinho se criar
Ninguém esperança tinha.

Pra ele faziam as dúzias
De promessa e simpatia.
Oração a reveria,
Usou um breve de osso.
Escapulário de grosso
Numa bolsinha de pano
E o dia que fez um ano
Tiraram do seu pescoço.

Dali por diante se veio...
Fraquito e não engordava.
Mas cada um que chegava
Receitava algum jujo:
Tomou pó de caramujo
Com leite de cabra oveira
Que dava uma corredeira
Que mais passava era sujo.

Até mandaram parar
Co’aquele leite maldito.
Que até hoje de cabrito
Não pode nem ver o couro.
Passaram a lhe dar soro
Dos queijos que avó fazia
(Dois ou três “litro” por dia)
E um chá de folha de louro.


Até falaram pra mãe,
Não sei se por brincadeira!
Que a Turibia benzedeira
Que dava remédio a eito...
Que no mundo tinha feito
Muito magrinho engordar.
E pra esse piá se criar
Teve que ser desse jeito.

Primeiro deu uma gemada
Com cinco “ovo” de ganso,
Misturou também um ranço
De toicinho enfumaçado.
Se ele andar enfastiado,
Atraca chá de pessegueiro.
Lhe garanto que é ligeiro
Que endireita esse pesteado.

De fato se endireitou
Como da noite pro dia!
Alapucha o que comia,
Abriu a disposição.
Um caldito de feijão
Engrossado com farinha
E algum granzito que tinha
Inté pegava com a mão.

Esse aí é o Chico Toro,
Comprido, delgado e rijo.
Que nem pilão de carijó,
Como teclado de gaita.
E co’essa vontade baita
Hoje anda por ai...
Lá da costa do Ibicuí,
Estampa de índio taita.

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