Pivete
Ronaldo garciaTão grande é a fome
Pai no xadrez
Mãe tem mais seis pra sustentar.
Vem pra cidade
Indigente, pingente
Semente de um mal
Não pode evitar.
Menino é engraxate
Toca o carrinho de feira
Se vira, arruma um biscate
Bate alguma carteira.
" ô moça, compra chiclete"
E a moça fica cabreira
Medo, sei lá, da gilete,
Pivete não é brincadeira.
Pra quem subir a ladeira
O morro tem o perdão
Mesmo que faça besteira
'inda que seja ladrão.
Pra quem nasceu na rabeira
Não tem mesmo solução
Vai ser assim, vida inteira,
Dura, a batalha do pão.
Olha o torrado
E a noite é criança
Que come criança
Que passa correndo do camburão
Nossa ciência
No mundo da lua
Deixando na rua
Sua missão.
Nos quatro cantos do mundo
Nos quatro quartos da hora
Nos quartos do submundo
É sempre a mesma estória.
Filantropia promove
Um belo conto de fada
Mas quando a prova dos nove
Noves fora, nada.
Pra quem sobrou na rabada
Vai ser assim, sempre igual,
Primeiro o pai, que foi filho,
Filho etc. e tal
Pra quem varou madrugada
Cobrindo o corpo um jornal
Desgraça pouca é piada
Pouca loucura é banal
Olha um turista
Que praia, que vista
E a pinta de artista, que tal?
Que trouxa em potencial!
Vem o passista
Se atreve, se arrisca,
Mão leve e um estrago no capital
Mas pivete cuidado,
Vê se não marca bobeira
Se bate no juizado
Vai engajar na carreira.