No contratempo
Thiago amudBate no contratempo do dia de lá
Bem na hora em que o sol do Japão começava a sumir
Cá terminava a batucada
Então, fui dormir
E, porque não custa nada sonhar
Me acordei pra dentro e, quando percebi
Entrei num túnel pra lá
Parei numa cidade
Onde a gente era por natureza
Mulata de verdade
E completamente japonesa
Bandeira não havia
Havia apenas o estandarte da escola
Que estampava, todavia
O sol nascente encarnado numa bola
Ingressei num trem bala destino Portela
Pra ajudar a Surica a fazer o sushi
Bambas do shamisen vinham lá da favela
Pra curtir quatro dias sem harakiri
Velha Guarda largou o xogun no palácio
Todo o clã tava pronto para o carnaval
(Carnaval!)
Quando o mestre Bashô, partideiro do Estácio
Repicou na curimba um haicai tropical
E tal
Legal
Deixa eu contar o final
Não me acordem já não, que tá chegando a hora
Olha a gueixa e a cabrocha adentrando o batuque (ai)
Mascaradas, com seus tornozelos de fora (ai)
Era um pouco umbigada, era um pouco kabuki
Fui bancar o esperto e quase que morro
(Socorro!)
Pois dediquei às duas o tal do haicai
E a gueixa era cacho do dono do morro
(Que horror!)
E a cabrocha era noiva de um samurai!
Ai
Despertei, fui lá fora checar meu regresso
Um expresso corria no meu coração
O sol se retirava aqui de Bonsucesso
E um trem bala o levava de volta ao Japão