Reciclando sonhos

Nem lembro quem me disse que Brasília dava dinheiro
Vim parar aqui no desespero
Não consegui emprego, não era tão fácil
Sem casa, sem ninguém o que é que eu faço?

Sem grana pra voltar, sem grana pra ficar
Sem lugar, sem acreditar que vai melhorar
Dormindo na rodô, o frio não tem amor
Arrependida, sem rumo, topando o que for

Ouvi falar de um lugar onde rolava um lixão
E que em volta dele tinha virado invasão
Vou tentar a sorte, quem sabe ganho um lote
Ou pelo menos junto grana pra voltar pro Norte

Quase desisti, sem saber como agir
Só queria comer e um lugar pra dormir
Fui pra lá arrisquei, hoje eu sei
Vence quem acredita e eu acreditei

O tempo passa e a gente aprende a viver
A lutar e um dia vencer
Entre perdas e ganhos
Reciclando sonhos!

Marquei meu território, trampava sempre sozinha
Um sonho realizado, uma cozinha só minha
Quase tudo que usei, foi do lixo que tirei
Logo mais na cooperativa me cadastrarei

Muito trabalho e pouca grana
Mas pra quem tava sem nada uma ponta de esperança
Famílias destruídas cicatrizando feridas
No lixão cada vida, uma história sofrida!

Conheci um cara, dizia que me amava
Depois me deixou, eu estava grávida
Durante um tempo eu chorei
Mas meu filho nasceu e eu mudei

Não estava mais sozinha no mundo
Agora tinha motivo, encontrei um novo rumo
Não tinha mais o luxo de poder me lamentar
Seria difícil, mais iria novamente lutar

O tempo passa e a gente aprende a viver
A lutar e um dia vencer
Entre perdas e ganhos
Reciclando sonhos!

E quem era eu na fila de quem morre sem?
Iguais a mim, pivete pretin
Magrelin? Vários
Futuros precários
Vivendo ali
Minha vida era assim
Da minha mãe era assim
Do pai que nem vi também era assim
E o fim desse ciclo, Cadê?
No horizonte os urubus quero uma luz
E outro caminho a seguir
O que sentir?
Sei que cê sente pena
Mas só pena não ajuda
Se o que cê pensa não muda
E o mundo fica como está
Continuei la
A procura. A espera
Daquilo que não te serviu
Só eu sei, viu?
Lagrima nos olhos quando achei
A noite passada foi pei pei
Corri perigo e agora comigo
Minha moral na quebrada
Minha forma de me armar
Quanto mais disparo mais tenho pra trocar
Minha lei
Essa é a historia do primeiro livro que achei

Segui alegre, ó
Sorridente
Como quem ganha um presente
E dali pra frente
O fim de ano foi melhor pra muita gente

O tempo passa e a gente aprende a viver
A lutar e um dia vencer
Entre perdas e ganhos
Reciclando sonhos!