Do avô e sua neta
Cainã (morador do mato)Ainda olhava
A vida de olhos fechados e fé
Sentindo a música ecoar
Pelos cantos da casa já se viam de pé
Sua neta e a manhã
Se queixava da vida e o quão difícil que é
Disputar com a sua irmã
"Ah, vovô! Por que tudo tem de ser assim?
Lembram sempre dos outros mas não lembram de mim"
O vô, bem calado, já se punha de pé
E saía em direção
Ao seu quarto e ao armário de grande sopé
E uma enorme coleção
"São discos, memórias vividas na história"
Dizia o senhor
"Sempre os discos e fitas, em cada visita"
A menina pensou
E olhava, atenta, o seu alto avô
Em silêncio a procurar
Um minuto depois o seu braço alcançou
Uma grande capa preta
"Meu amor, venha que eu tenho algo a te mostrar"
Foi até a vitrola e pôs o disco a tocar
A luz da janela enfeitava o lugar
Quando o avô se abaixou
E olhou-a, profundo, com os olhos cor de mar
Pegou suas mãos e falou:
"Cada um de nós tem o seu lugar no mundo
Nunca queira ser ninguém
Seja sempre assim, eu tenho tanto orgulho
Cresça uma mulher de bem"
E no rosto do avô um sorriso nasceu
Fez sinal para escutar
E a neta vibrou tão logo percebeu
O seu nome na música
Lá rá-rá rá-rá