Eu não refugo bolada
César oliveiraO horizonte se adelgaça ao desacito
O sol branindo já nasce todo encarnado
De lombo arcado junto às barras do infinito
Depois que um trago de amargo me aquece a goela
E o meu sombreiro se guasqueia sobre a nuca
A cachorrada se alvorota retoçando
Adivinhando o corcóveo das éguas xucras
As minhas esporas são feitio do Tiarajú
Talvez por isso eu não refugue bolada
As garroneiras eu tirei dum bagual mouro
Metido a touro que se matou numa bolcada
Mas foi da anqueira da lonca de um boi fumaça
Que eu fiz com gosto um sovéu bem macharrão
Que se arrepia quando surge um desaforo
De atar o namoro de cucharra ou de tirão
A cavalhada lá do posto é caborteira
De vez em quando um crinudo se desgoverna
Faz que se assusta e mete as patas nas macegas
Ronca e se nega pra o paysano firmar a perna
Tem um lobuno e um baio cabeça preta
Marca porrada, contrabando da Argentina
E um colorado que de muito me conhece
Inté parece o diabo com couro por cima
Quando tem doma a china me alcança as garras
Reza por mim e aperta um nó no vestido
Pra que o pai velho me proteja a cada volta
Quando se solta corcoveando algum bolido
Pra que o palanque que eu cravei em frente ao rancho
Siga entonado a escorar golpe de potro
Pois algum dia o destino me golpeia
E me volteia pra alcançar garra pros outros!
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