Conto para não contar
Destinatário anônimoSentir é estar distraído
Um amor, por favor
Sentir é estar distraído
Sentir é estar distraído
Antônio, antagônico personagem
Sempre esteve à margem
Nunca passou de uma miragem e que viagem
Pensar que um dia ele se apaixonaria
Quem diria em demasia que ele iria conhecer
A mulher mais bonita que em sua vida pôde ver?
Mas ele viu, foi um tiro certeiro
De um cupido mensageiro que acertou
Aquele carteiro no trabalho
Entregava cartas todos os dias, lia os endereços
O fazia com maestria, mas tinha um, em especial
Que ele não conhecia, Rua Altamira, número 7
Uma viela pequenina, e caminhando por lá
Sem imaginar o que iria encontrar
Só estava a trabalhar, tropeçou numa mocinha
Que trazia uma pastinha com coisinhas bonitinhas
Todas feitas de papel, fazia dobraduras
E ele estava no céu. Completavam-se
E ela buscava as cartas dele e ele as coisas dela
Mas naquele segundo tudo ficou surdo e mudo
E contemplou-se a imagem de um novo casal no mundo
Ele se apresentou e Ana disse o nome dela
E a carta endereçada entregada foi a ela
A eterna moradora da casinha amarela
No meio da viela Altamira Mira Bela
Surgia aí a história que hoje eu vim passar
Destinatários do mundo
Esse é o Conto Para Não Contar!
Mais amor, por favor
Sentir é estar distraído
Um amor, por favor
Sentir é estar distraído
Sentir é estar distraído
E agora Antônio, o antônimo do amor
Aspirava em ser ao mínimo o seu aspirador
Esperava retornar àquela casa, àquela cor
Amor era o que sentia? Não sabia
O que seria? Só queria era contar ao único amigo
O abrigo mais bonito que a gente guarda no peito
Então de volta ao correio
Pelo mesmo meio de transporte veio Antônio
Falar com o companheiro Arlindo Coelho
Um carteiro que era uma peça. Ele disse
Meu amigo! Saindo de uma travessa
Esbarrei numa donzela na viela mais singela
Desta cidadela, ela era a mais bela, daquelas
Que a gente não se esquece
Mexe com o coração da plebe!
Antônio Prestes, cê tá bem?
Não sei, pode ser febre, estresse, ninguém merece!
Qual é o nome da donzela?
Ela se chama Ana, de Altamira Mira Bela!
Eu nunca ouvi falar
Mas eu posso te jurar que o sentimento é igual
Mulher me olhar daquele jeito aceito que não é normal!
E qual é o feito que vai fazer
Com todo o respeito, essa Ana te amar?
Uma carta a ela eu pretendo inventar e rubricar
E assinar, e enviar e receber, e entregar pessoalmente
É o que eu vou fazer!
Pois vá em frente, se acredita e sente
invente na mente o teu recado
que eu passo a limpo contente
Você faz isso por mim?
Melhor amigo é assim
Enfim Antônio começou a rabiscar
Começou a rascunhar, começou a declarar
E a maior declaração de amor do mundo
Foi surgindo devagar. E o que Ana acharia?
Ana diria que não? A resposta para isso
viria depois do refrão!
Mais amor, por favor
Sentir é estar distraído
Um amor, por favor
Sentir é estar distraído
Sentir é estar distraído
Então Antônio carregava na bagagem da viagem
Milhares de cartas, ares de lugares diferentes
Felizmente chegava o momento esperado
Antônio exasperado e Altamira do outro lado
O fato foi que fez a festa quando a fresta da fenestra
Se abriu e ele viu aquele rosto branco brando
E o canto dos santos quando ambos se olharam
E aquela semana inteira enfim virando passado
Com cuidado, Ana foi à porta e recebendo
Com carinho disse "olá" devagarzinho
Ao pacote que ele trazia amarrado a um laçinho
A única dobradura que aprendeu naquele tempo
Vendo Arlindo lendo e repetindo bem
Atento o movimento. E agora era falado
O que já tinha ensaiado, era fato consumado
O discurso apaixonado
Ana, eu tenho pensado em você
Desde que esbarrei em ti
Escrevi numa carta tudo aquilo que eu senti
Quando te vi, sem ti minha vida é nada
Não importa o que eu faça, basta de viver no canto
Achando que tudo tem graça, me passa o teu telefone
Te juro, faço por onde e quem sabe
Nem demore até que a gente vá longe
Ana, paralisada, sabia que nada pararia
Cada palavra que ele emitia e metia as mãos nos bolsos
Esperando uma resposta tímida, apaixonada
Pena que Ana era casada, e o maridão
Chegando no carrão, na contramão
De tudo que Antônio concebera em vão
Não pôde evitar ao se aproximar perguntar
Se havia cartas da Europa pra entregar
O carteiro escondeu o pacote do lacinho
Buscou as cartas que ele havia pedido
E despedido, a carta na mão, a porta na cara
Ana era casada. Não avisaram que o amor
Não era pra gente fraca. O combustível dos poetas
Droga de alucinar mais um daqueles
Que viveu o Conto Para Não Contar!
Mais amor, por favor
Sentir é estar distraído
Um amor, por favor
Sentir é estar distraído
Sentir é estar distraído