Filho da roça

Tem horas que eu me pego querendo desabafar
Recontar a minha história pra saudade aliviar
Procuro alguém por perto para poder prosear
E só ouço essa desculpa, sem tempo pra conversar
Então eu falo baixinho, pras estrelas, pro luar
Falo com o sol e o vento que sopra meu pensamento
Pro meu antigo lugar

Abraçado às lembranças eu consigo imaginar
A minha vida na roça, o viver sem reclamar
Chapéu de palha bem simples, sem grifes pra estampar
Botinas feitas de couro, sempre prontas pra enfrentar
Qualquer espinho no eito que eu pisasse sem notar
Um facão cabo de osso, que no corte era um colosso
Fazendo o mato deitar

Era a vida sem frescura, o prazer de trabalhar
Seguia o velho ditado, pra colher tem que plantar
Era orgulho ser caipira, sem ter que se envergonhar
Dominava a enxada pra família sustentar
Só voltava de tardinha para poder descansar
Nos braços de minha amada, pertinho da filharada
Que encantava o nosso lar

Você que me vê que me assim, não estranhe se notar
Que falando aqui sozinho, às vezes posso chorar
Eu já falei com o tempo, cheguei até reclamar
Mas eu sei que é bobagem, o tempo querer parar
Só sei que ainda dá tempo, de minha história eu contar
Resumindo, pra quem gosta, eu sou um filho da roça
Que nunca esqueceu de lá