Leôncio severo

Arranchado

Leôncio severo
Nesta colméia povoeira,
Onde fiz arranchamento
Amarro fletes de sonhos
Nos palanques de cimento
Vou bebendo nostalgias
De sanga, pitanga e vento
Sesmarias de saudade
Não cabem no apartamento

Quando a lua se debruça
No arranha-céu dos viveiros
Onde arranchei minha alma,
No meu exilio povoeiro
Coiceia dentro do peito
Um coração caborteiro
Me sinto um pássaro preso
Na angústia do cativeiro

Um luzeiro imaginário
Na quincha de um céu nublado
Vai apartando rebanhos
De fumaça nos telhados
E uma saudade de noivo,
De campo e berro de gado
E uma saudade de noivo,
De campo e berro de gado

Vou embora prá querência
Pra me arranchar no meu chão
Amanhã eu ponho anúncio
Nos grandes classificados
Vende-se um apartamento
No coração da cidade
A preço de ocasião
Por motivo de saudade

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