Pra se libertar
Raúl quirogaNem chuvas grandes prenunciando estio,
Pois se a garganta já não traz milongas
A sua sede é bem maior que um rio...
Feito as barrancas que não vão embora,
Fiquei sozinho neste velho cais,
Porém o sonho nunca se demora
Tal como as águas que não voltam mais!
Não basta o sol ou mesmo um céu de estrelas
Que se completem num sinal de cruz,
Pois se meus olhos já não podem vê-las
Não é por falta de nenhuma luz...
A minha alma já viveu repleta
Perdeu as luzes desse olhar vazio,
Mas é preciso escuridão completa
Pra que ela sinta tudo o que não viu!
Não basta o vento repontar recados,
Nem céus abertos pra se libertar,
Pois mesmo o sonho que se faz alado
Não abre as asas se não quer voar...
Em cada porto um novo olhar me espera,
Mas não me deixo navegar assim
Minha canoa já ficou tapera
Talvez de tanto naufragar em mim!
"não basta o tempo de saudades longas
Nem chuvas grandes prenunciando estio,
Não basta o sol ou mesmo um céu de estrelas
Que se completem num sinal de cruz,
Não basta o vento repontar recados,
Nem céus abertos pra se libertar..."