Valdenir

Era uma vez

Valdenir
Era uma vez um presente
Bem parecido com o passado
Ele tinha uma cara de gente
E hoje tem andado meio disfarçado
Mostrando quem realmente é
E fazendo o que realmente quer
Colocando o seu futuro na frente
E o nosso pra quando Deus quiser

Era uma vez um fulano de tal
Que até ontem falava d'ocê
Ele preferia abraçar o diabo
Do que um dia te deixar vencer
Mas foi o primeiro a entrar
E sentar na cadeira da frente
Como se a vida inteira fosse de lá
E pela gelosia escancarase
O que sente
Fingindo-se de sujeito leal
Mas escorregadio do que quiabo
No fundo sujeito valente
Tipo bicho peçonhento
Nas águas do pantanal

Era uma vez uma multidão
Esperando o mínimo de respeito
Foi quando ressuscitou
A velha cadeira do dragão
Pra se receber faca no peito
E depois cara no chão
Ditadura amarga voltou
E honestidade virou defeito
Pra qualquer um latagão
Que se comporta desse jeito

Era uma vez o que se partir
E poucas vezes o que se chorar
Mas você quis iludir
E a nossa confiança quebrar
Agora sem saber pra onde ir
Vejo tudo se acabar
Esperança é pra resistir
E um dia ainda mudo de lugar
Quero ver tudo emergir
E a sua falsidade delirar

Era uma vez
Uma mulher de sicrano
Que casou se com o filho de beltrano
Não souberam lhe dar com o engano
E agora querem mais do que precisam
Como se fosse ficar debaixo do pano
Se na cara da gente todo dia eles pisam
Mostrando o seu verdadeiro arcano
E a nós todos eles paralisam
Como se fossemos de ferro
E aguentasse entrar pelo cano

Era uma vez uma tal de união
Que ficou lá atrás na boca do santo
Todo dia ele acenava uma mão
E hoje qual não é o meu espanto
Vê que esse braço esconde uma mão
E pede que eu vá procurar outro canto

Era uma vez uma tal de mudança
Que cheguei até acreditar nela
Olhei pro lado e vi bem quem balança
E a pessoa que hoje estar aqui
Vejo que não é mais aquela
Hoje eu só vejo a lambança
Principalmente de quem não lutou
E hoje estar nela

Era uma vez uma tal de felicidade
Que já morreu no seu primeiro ano de idade
Vejo que pra esse mal não têm remédio
Porque se fala a verdade
Te jogam de cima do prédio
É carma que não têm cura
Como um "boto" que alimenta seu tédio
Salva é a criatura
Que um dia nasceu teu parente
Atracado à sua cintura
E armado até o dente

Era uma vez uma pessoa
Que cantava a liberdade
Pra rei só faltava a coroa
E hoje eu só vejo banalidade
Uma espécie de proa
No olhar perdido da cidade

Era uma vez uma verdade
Convertida a seu interesse
Deu um chute na humanidade
E coisa séria virou quermesse
Aparece ai dignidade
Quero ver se você reconhece
Nós como membro ainda
Fazendo parte da sua trindade

Era uma vez um compromisso
Uma sede de justiça
Hoje eu e você se tornou um abismo
Uma amostra da preguiça
Porque boa vontade foi se embora
E só restou o seu capricho
Não sei se é por prazer
Ou feitiço
Só sei que assim nos pede que chora
E eu já não sei o que fazer
Se eu fico ou vou embora
Ou deixo de viver

Era uma vez um parente
Um rio correndo bem devagar
Parecendo parado quase ausente
Mas eu sei muito bem
Onde ele queria chegar
Com sua cara de amargar
Fingindo-se de inocente
Como quem muda de lugar
Levando seus bichos também

Era uma vez uma decepção
Que contrariou o sonho da gente
Demos o nosso coração
E ele foi engolido pela serpente
Como quem abusa de paixão
E amanhã vomita
E esquece da gente

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