Valdenir

Voz ativa

Valdenir
Depois a gente inventa
Uma outra maneira de falar
De uma forma que não arrebenta
Nos obrigando a calar
Já que tudo que a gente diz
Dizem que é proibido
É coisa que contradiz
A um ser assim tão sabido

Depois a gente inventa
Uma maneira de falar
Porque todo rei
Tem sangue na venta
E quase nada ele quer escutar
E por isso eu já não sei
Se eu falo
Canto ou berro
Pra que um dia congele
Na garganta um calo
De tanto vomitar o que eu quero

Depois a gente inventa
Uma direção
Uma luz que levanta
E acenda teu coração
Que já anda meio escuro e perdido
Vivendo em contradição
Depois a gente inventa
Uma palavra
Que seja tão só
Mas sempre dona da gente
Que toma conta de nos dois
Quando levantar aquele pó
E nada mais se ver pela frente

Coisa dura tormenta
Palpite cego valente
Palavra arisca confusa
Diagonal do tempo serpente
Que vibra cai
E não sai
Nos vãos desse cais
Já recai
Quando perdido se acha que vai
E a boca intrusa
Num segundo retrai

Depois a gente inventa
Uma outra maneira de calar
Dessa vez um tanto diferente
Daquela que se tem de falar
Que surdo que é surdo lamenta
Um dia não poder escutar

Pelos ares vai sempre voando
Algo que o povo dizia
Quando os homens
Na terra voltando
Ouvia somente o que queria

Parte que não preenche
Voz que não alimenta
É esse o mais puro vazio
De quem consente por fora
E se cala por dentro
É nessas horas
Que eu já não sei
Por que será que ainda aguenta
E não abre esse jogo agora
Todo dia só aumenta
E um segundo já demora
É coisa que o coração inventa
E logo já quer gritar
Por tudo que tá engasgado
E já não dar pra esperar

Voz maluca quer correr
Quer cair na tentação
De quem fala por viver
Por gritar um coração
Que palavra enche o mundo
Enche mais que o ribeirão
E se não grita quer morrer
É como viver na escuridão

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