Direito de vingança

De coturno, manda pra netuno ou saturno
Pivete sortudo no turno noturno
É quem sobrevive a uma noite sendo preto nesse submundo inoportuno
Juiz que martela a sentença não pensa que mandar preto pra cela não compensa
Imprensa é doença, incita e cita a coroa que sofre com a dor imensa
A vida é caminho de escolha
Mas sai dessa bolha, irmão
Percebe que o caminho torto deixa de ser escolha quando não se tem opção
Falta de investimento, não tem nem museu, nem teatro, um cinema, sessão
Mas todo final de semana a própria favela organiza o paredão
Escola sem aula, greve de docente antiquado que faz discente displicente
Porém não seria atrasado, recente se recebesse um salário decente
Madrugada chega, andando na rua, enquadrado e as armas se apontam
Se morre, era traficante, vilão é herói se a história é o vilão quem conta
Burguês quer estudar pública sem pagar, reclama de cota e diz que é atalho
Porque quando um preto entra na faculdade incomoda pra caralho
O que vem de baixo não atinge né? É chegada a hora da mudança
Justiça tarda mas não falha, vamo pra batalha e o nome disso é vingança

Vou me vingar
O jogo vai virar!
Vou me vingar
Pro topo alcançar!
Vou me vingar
Justiça vai chegar e o gueto vai reinar, o gueto vai reinar! (2x)

Sei que vingança é veneno, mas que se foda esse eu vou tomar
Já são 500 anos sofrendo, agora Zumbi e Dandara eu vou invocar
Vou lutar, o jogo vou virar!
O sistema quer me fuder, mas não quer me dar
Pare pra pensar!
É justo fazer por onde, se esforçar e não chegar? [não]
Por causa de uns 'fila' da puta, que acham que cor representa conduta
Fecham as portas das indústrias, não condizemos com o que eles buscam
Ridicularizados na TV e também pelo Senado
Que só aprova projeto pra fazer quem nasce na rua viver e morrer sem um teto!

Seguindo minha sina enquanto o tempo passa
Juntando os pedaços, moldando a carcaça
Se sobreviver é a lei da minha raça, que todos provem dessa mesma desgraça
Voltei pra cobrar as fitas do passado
Ódio acumulado dos antepassados
"Revolta dos nego" já tinha acabado? Desculpa, senhor, mas cê tava enganado
Algoz cumpre pena, ver sangue é sua tara
Herança é vingança e meu bonde não para
Avua, Besouro! O cordão é de ouro
Esse já foi pro soro com a benção na cara
Por cada busto na praça Piedade
Cada mãe preta que chora e sabe
A polícia é racista, suja e seletiva
Age na malícia, bando de covardes
Se o distanciamento aproxima o algoz
Facções rivais se matando entre nós
Tudo que eles querem, por nada interferem
Brincando nos gerem, ainda dançam após
Não tem diferença, nem menos, nem mais
Buzus coletivos são canaviais
Partiu, tacar fogo, puxar a cordinha ou pular a janela e entrar no de trás

Vou me vingar
O jogo vai virar!
Vou me vingar
Pro topo alcançar!
Vou me vingar
Justiça vai chegar e o gueto vai reinar, o gueto vai reinar!