Wwl rap

Fogo cruzado

Wwl rap
Solta!

Os barracos mal arrumados uns em cima dos outros
Esquecidos pelo estado, tratados como esgoto
Escória da sociedade, lado feio da cidade
Segundo plano nos planos das autoridades

Tem que saber chegar, senão pode rodar
Respeito é bom e os dentes permanecem no lugar
Tem gente ruim, mas muita gente de bem
Ladrão e traficante lá em Vilas também tem

Orla é orla, favela é favela
Não tem GPS pra subir as viela
Se limite ao perímetro do seu condom fechado
No mapa aqui do gueto, o tesouro é corpo enterrado

O dia amanhece enquanto o galo canta
Menino vai pra escola e a tia arma a banca
Na noite anterior, movimentação intensa
Não é festa de largo, mas todos marcam presença

Maioria preta, senzala de atualmente
O fardado mata, se deixar enterra indigente
Tem que andar ligado e nunca contar com a sorte
PM aqui significa Pena de Morte

Quem sobe o morro são os de farda marrom e preta
Pegam o de menor e envermelham sua camiseta
Planos são podados, sonhos decepados
A família lamenta: o caçula virou finado

O certo é pelo certo, deixa quem não tá envolvido
Se tem acerto de contas, são com dedos no gatilho
Carregamento chega, a pista tá a mil
Protege o território de campana com fuzil

Esse é o estilo metropolitano
A lei do cão impera e a PM tá matando
Na calada da noite, o clima fica tenso
O cheiro é de pólvora, não fragrância de incenso

Quando vem a sirene, favela respira tensão
Os fogos de artifício deixam os cara na visão
Os covardes parecem predador caçando presa
Diz que era suspeito e atira sem ter certeza

'Pacto pela vida' é o lema na viatura
Mundo do faz de conta, realidade é sepultura
Troca de tiros pra disfarçar execução
Genocídio pior que treta de facção

Chacina de preto e pobre é autorizada
Passou das 9, a coroa já fica assustada
É foda, aqui tá cheio de policial C&A
Abusam e usam do poder para intimidar

Aqui se faz, aqui se paga, a verdade dói
Quando morre um fardado, na TV vira herói
A mesma TV que alimenta a violência
Corpo de favelado desovado dá audiência

Ilusão, execução, crime e judiação
Irmão que mata irmão, treta entre facção
Filho chora e mãe não vê, todo dia na TV
Gente que cresce com você, finado vira e cê não crê

Sexta-feira, tiros confirmaram o fim da semana
O fim do mês, o fim da vida, mais um corpo em chama
Abuso de poder e de autoridade
Sua morte nessa tarde foi o assunto da cidade

É alarde, liga o rádio e pega a notícia
Tem carne negra exposta na mesa dos polícia
Vacilou, se iludiu, achou que o crime era Bom Bril
Subiu na hierarquia e na sepultura caiu

Aqui no CIA é desse jeito, morte todo dia
É pauta para as puta e pro Bahia Meio Dia
Em torno do coturno, o sangue da minha raça
Sirene e rabecão, presunto estirado na praça

É bala, é fogo, é tiro, pipoco
Ondas de violência, extermínio do meu povo
Correria, sobe-desce em meio ao fogo cruzado
Um drama que se repete e querem que eu fique calado

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