Bruxinha de pano
Janaína maiaDe ter uma boneca de olhos cor do mar
Com vestido de luxo, de porcelana fina
Igual à das meninas mais ricas do lugar
A bruxinha de pano que me embalava o sono
Mamãe fez de retalhos de um velho cobertor
Os olhos com frutinhas de um pé de cinamomo
Parece que entendia meu sonho multicor
(E cada vez que eu dormia
Minha bruxinha aparecia em sonhos
Rosto farrapo, pranto de trapo
Me censurando com olhar tristonho
"A porcelana cai e se quebra
E eu mesmo feia, jamais quebrarei
Por ser de trapos, pode estar certa,
Pelos invernos te aquecerei")
Conforme o tempo passa, os maricás florescem
No campo do carinho em cada coração
As pessoas se amam, se tocam, mas se esquecem
Igual à porcelana quebrada pelo chão
Por isso hoje me sinto a bruxinha de pano
Com olhos de carinho, sem ter pra quem olhar
Tecida nos farrapos de tantos desenganos
Só bruxinha de pano, sem ter com quem falar
(E cada vez que eu dormia
Minha bruxinha aparecia em sonhos
Rosto farrapo, pranto de trapo
Me censurando com olhar tristonho
"A porcelana cai e se quebra
E eu mesmo feia, jamais quebrarei
Por ser de trapos, pode estar certa,
Pelos invernos te aquecerei")