I
A bênção, pai! A bênção, mãe! Ferida,
Murchou-se a trepadeira da arrogância
Nascera como filha a tolerância
Fizera amor a morte com a vida!

A mente, de pureza desprovida,
Transborda insensatez e ignorância
Espíritos sem marcas de importância
Flutuam igual solidão perdida.

Em meio ao calar e ao consentir
Conceitos vão dos loucos emergir:
__A Morte é só irmã cruel de Deus!

Mistério, por crescer demais astuto,
Lhes deixa respirar mais um minuto
E zás! Carrega-os pra juntar aos seus.
II
A curva certa nessa vida torta,
Talvez, enfim, a única certeza.
Visita para quem prepara a mesa
Na hora que já bate vossa porta.

Breu nômade, habita a artéria aorta!
Percebe como pulsa a correnteza
E sente por um dia a natureza
A força que o sangue bem transporta!

Visita o corredor do sentimento
O vão triturador de sofrimento
Percebe como nascem os prazeres!

A vida é que te fez nascer, ó morte!
Humanos recomendam melhor sorte:
__Ocupa-te com outros afazeres!
III
Estás no fio da faca matadora
Na ausência do rebento, no tição,
No medo que semeia escuridão,
Dos céus e dos infernos, locutora!

Filósofos, de musa inspiradora
Espíritas a chamam transição.
Completa e irreversível cessação
No morno prontuário da doutora.

A igreja branda a chama de descanso
Às águas, uma espécie de remanso.
Vizinha dos pagãos, dos esqueléticos

Imagem da ceifeira do respiro
"Village" para último retiro
Talvez, fonte de credo para os céticos.

IV
Que culpa tens de seres órfã filha?
Que culpa têm os seres que tu levas?
Que graça tem em seres mãe das trevas?
Ninguém sabe dizer da tua família.

Respira e sente a nossa maravilha!
As flores com jardins, "Adãos" e "Evas"
Os ares que nos servem quando cevas
As larvas desta sórdida "pandilha"!

De veres dos poetas toda a garra...
Terás de os ouvir em voz bocarra!
Enquanto não deslizam teus declives.

Passeias nos gemidos do homicídio
Covarde, tomas álibi o suicídio.
Sinistra e solitária é como "vives".
V
Que cara é que tu tens, ó velha "in-sorte"?
De foice, de facão, de sangue ou tiro?
De pena no penúltimo suspiro?
Ferida, exaustão, pancada ou corte?

Responde ó febre crônica sem norte!
Sem rumo rodopias "sinistrogiro",
Oculta nesta veste de vampiro,
Cuspindo em nossa dor um passaporte!

Finito todo ser a ti se cala,
Porém, hás de levar no peito a bala
Pois vais saber do tempo o quanto és fútil.

Enquanto banqueteias-te nas guerras
Espíritos e almas não encerras!
Ao corpo morto tornas-te inútil.
VI
Avisas que faminta te aproximas
No braço que se quebra na fratura,
Nas vãs enfermidades em loucura,
Excessos e fenômenos. Nos climas.

A mão nos fracos desces, lá de cima
Nenhum respeito tens pela ternura!
Temática abordada, por ventura,
Usaste precipícios feito ímãs?

Alguns aceitam tua Filosofia
E injetam-se com crença a anestesia
Na qual viver pra sempre é só vaidade.

Guardando ou respondendo teus recados
Suportam teus sintomas, conformados,
Ó tênue entre o pulso e a eternidade.

VII
Cabreira no soneto a voz rasteja.
Sussurram os "finandos" nos embates.
Não há bom pra vencê-la, nem empates.
Jesus provou: tu és Judas que beija.

Sutil sendo eutanásia a quem deseja,
De ti poupa, nos sonhos destes vates,
Os versos, improvisos, arremates
Os gostos e verdades. Assim seja!

Na ânsia de xingar ou de beijá-la
Na língua toda angústia mor se cala.
Do velho brota o novo. Seja assim!

Vós sois inspirações, mortais. Sabei-la!
Não tendes progressão sem antes tê-la.
A morte é, pois início, meio e fim!

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