Antônio conselheiro e as 25 igrejas
Laécio beethoven
Antonio Conselheiro e as 25 Igrejas
1
Mudei em setenta e três
Pra morar no Maranhão
Mas eu não tinha a noção
Do que ia acontecer.
Logo que disse - prazer!
Ao primeiro morador
Ele, espantado, gritou:
-É Antonio Conselheiro
Que baixou n'algum terreiro
E aqui se incorporou!
2
Aquilo foi o prenúncio
Do que viria a seguir,
Eu tinha chegado ali
Dessas plagas da Bahia.
Por não gostar de folia,
Não dar "valor" a dinheiro,
Não ir a cabelereiro
E ser amável no trato,
Diziam eu ser o retrato
Do "beato" Conselheiro.
3
Quando já era bancário
A coisa seguiu assim,
Só referiam a mim
Como Antonio Coselheiro.
Aquilo foi um roteiro,
Um fato a considerar.
Minha passagem por lá...
Por lá... pelo Maranhão
Transformou em obsessão
E resolvi pesquisar.
4
Esse fato me marcou
Naqueles anos setenta.
Minha mente tava atenta
Pro beato singular.
E procurei me ligar
Na vida do Conselheiro
Esse insigne brasileiro
De Belo Monte - Canudos
Que foi alvo até de estudos
Em países do estrangeiro.
5
Naquele ano de trinta
Do século dezenove
Nasceu em família pobre
Como Antonio Maciel.
Seu pai deu graças ao Céu,
Pegou o filho no braço
No dia treze de março
Na Vila Campo Maior.
Observando melhor,
Notou que tinha seu traço.
6
Quando contava seis anos
A sua mãe faleceu.
O menino padeceu
Por falta daquele amor.
O seu Vicente casou
Com Maria Conceição.
Ela não tinha afeição
Pelo pequenino Antonio
E por obra do demônio
Seu pai virou beberrão.
7
Cresceu assim o menino
Estudando o português,
Geografia e francês
Lá em Quixeramobim.
Teve aulas de latim
Lá na escola do avô.
Aos estudos se entregou,
Teve boa formação,
Pois o pai tinha a intenção
De fazê-lo confessor.
8
No ano cinquenta e cinco
No dia cinco de abril
Seu Vicente sucumbiu -
Morreu seu progenitor.
Só deixou tristeza e dor
E tudo que pôde herdar
Foi três irmâs pra cuidar
E um comércio falido,
Muito fiado vencido
E contas para pagar.
9
Casou em cinquenta e sete
Bem no início de janeiro
Em sete do mês primeiro
Com a jovem Brasilina.
Esse fato determina
Mudança de profissão.
Ele atendeu em balcão
Foi rábula e professor,
Constantemente mudou,
Parecendo em procissão.
10
Seu casamento ia bem,
Nasceram duas crianças.
Renovaram as esperanças
De futuro promissor.
Porém, teve o dissabor
De ver a sua mulher,
A companheira de fé,
Fugir com policial
Numa conduta imoral
Sem explicação qualquer.
11
Novamente se mudou
Após aquele ocorrido.
Ficou bastante abatido
Com "desmanche" do seu lar.
Tempos depois viu chegar,
Com Joana, mais um filho
Quando já era andarilho
Por todo o seu Ceará.
Qualquer cidade a cruzar
Já não era um empecilho.
12
No ano setenta e três
A fronteira cruzaria
E foi visto na Bahia
Já em peregrinação.
Tinha a determinação
De quem tem objetivos
E dava muitos motivos
Para alguém acreditar
Que promessa ia pagar
Aqui no mundo dos vivos.
13
Essas pesquisas eu fiz
Porque algo me faltava
Nenhuma "fonte" explicava
Um fato muito importante.
Aquela imagem "intrigante"
Que planejou "Conselheiro".
O comerciante e obreiro
Que "bolou" um "visual"
Que fascinou sem igual
No cenário brasileiro:
14
De barba e grandes cabelos
Alto e magro de feição
Com batina de azulão
Nos pés sandálias de couro.
Imagem de bom agouro
Só andava de bastão
E na cintura um cordão
Com enorme crucifixo.
Naquela imagem me fixo
Procurando explicação.
15
Não bastasse aquela "imagem"
Tinha um certo ritual.
Era caso habitual
Pedir ao rico pro pobre.
Essa atitude tão nobre
Dava mais o que pensar
E só fazia espalhar,
Pelo sertão, sua fama.
Aquilo era uma trama
Difícil de destrinchar.
16
E nesse ponto eu parei
Pensando o que fazer.
- Continuar a escrever
Sem essa luz clarear?
Refletindo, fui deitar
Tava cansado e dormi
E no sonho eu consegui!
É que nesse sonho meu
Conselheiro apareceu
E me contou tudo...*ali.
17
- *O fato que quer saber
Eu fiz de caso pensado,
Depois de ter estudado
A mente do sertanejo
Eu auscultei seu desejo
Para a minha atuação.
Fiz essa "transformação" -
Trabalho de marqueteiro.
No Brasil fui o primeiro
A ter essa profissão.
18
- Ocorreu no Ceará
A desavença cruel
Da família Maciel
Com todos os Araújo.
Não havia um só refúgio,
Isso marcou gerações,
Ensanguentou os sertões
Com morte de vinte e cinco.
Eu rezei com muito afinco
Pra cessarem as agressões.
19
- Nessas minhas orações
Fiz promessa benfazeja:
Construir uma igreja
Pra cada morte ocorrida.
E que toda essa ferida
Viesse a cicatrizar
Que jamais no Ceará
Reinasse a desarmonia.
Vim pro sertão da Bahia
Meu sonho concretizar.
20
- O final da minha história
Você já sabe de sobra
Em todo tipo de obra
Escrita por bacharel
Em folhetos de cordel
E teses de doutorado
Já tive o crânio estudado
Pra saber se fui normal.
Pois na busca do "ideal"
Vi meu povo trucidado.
21
- Eu só pretendia erguer
Essas casas de oração
E não sei por que razão
Parei no Vaza-Barris.
Por um capricho infeliz
Construí uma cidade
Que teve a capacidade
De se auto-sustentar.
Todos corriam pra lá
Para o lugar de igualdade.
22
- Canudos em quatro anos
Lá no sertão era a tal.
Foi notícia de jornal -
E incomodou a Nação.
E o presidente de então,
O Prudente de Morais,
Despachou seus "federais"
Para nos aniquilar.
Conseguiram consumar
E o fato foi pros anais.
23
- Não cumpri minha promessa,
Parei lá pela metade.
Não tive a serenidade
Cresceu minha empolgação.
E essa minha ambição
A mente me confundiu.
A morte me consumiu
E para meu desconforto
Cada um parente morto
Vi multiplicar por mil.
24
- Cheguei ao Terceiro Céu
Bem no dia que morri.
E o Comitê dali
Decretou na ocasião
Que para minha ascensão
Por cem anos vou purgar.
Agora você saberá
Como foi a minha morte...
- Por um capricho da sorte,
Alguém veio me acordar!
1
Mudei em setenta e três
Pra morar no Maranhão
Mas eu não tinha a noção
Do que ia acontecer.
Logo que disse - prazer!
Ao primeiro morador
Ele, espantado, gritou:
-É Antonio Conselheiro
Que baixou n'algum terreiro
E aqui se incorporou!
2
Aquilo foi o prenúncio
Do que viria a seguir,
Eu tinha chegado ali
Dessas plagas da Bahia.
Por não gostar de folia,
Não dar "valor" a dinheiro,
Não ir a cabelereiro
E ser amável no trato,
Diziam eu ser o retrato
Do "beato" Conselheiro.
3
Quando já era bancário
A coisa seguiu assim,
Só referiam a mim
Como Antonio Coselheiro.
Aquilo foi um roteiro,
Um fato a considerar.
Minha passagem por lá...
Por lá... pelo Maranhão
Transformou em obsessão
E resolvi pesquisar.
4
Esse fato me marcou
Naqueles anos setenta.
Minha mente tava atenta
Pro beato singular.
E procurei me ligar
Na vida do Conselheiro
Esse insigne brasileiro
De Belo Monte - Canudos
Que foi alvo até de estudos
Em países do estrangeiro.
5
Naquele ano de trinta
Do século dezenove
Nasceu em família pobre
Como Antonio Maciel.
Seu pai deu graças ao Céu,
Pegou o filho no braço
No dia treze de março
Na Vila Campo Maior.
Observando melhor,
Notou que tinha seu traço.
6
Quando contava seis anos
A sua mãe faleceu.
O menino padeceu
Por falta daquele amor.
O seu Vicente casou
Com Maria Conceição.
Ela não tinha afeição
Pelo pequenino Antonio
E por obra do demônio
Seu pai virou beberrão.
7
Cresceu assim o menino
Estudando o português,
Geografia e francês
Lá em Quixeramobim.
Teve aulas de latim
Lá na escola do avô.
Aos estudos se entregou,
Teve boa formação,
Pois o pai tinha a intenção
De fazê-lo confessor.
8
No ano cinquenta e cinco
No dia cinco de abril
Seu Vicente sucumbiu -
Morreu seu progenitor.
Só deixou tristeza e dor
E tudo que pôde herdar
Foi três irmâs pra cuidar
E um comércio falido,
Muito fiado vencido
E contas para pagar.
9
Casou em cinquenta e sete
Bem no início de janeiro
Em sete do mês primeiro
Com a jovem Brasilina.
Esse fato determina
Mudança de profissão.
Ele atendeu em balcão
Foi rábula e professor,
Constantemente mudou,
Parecendo em procissão.
10
Seu casamento ia bem,
Nasceram duas crianças.
Renovaram as esperanças
De futuro promissor.
Porém, teve o dissabor
De ver a sua mulher,
A companheira de fé,
Fugir com policial
Numa conduta imoral
Sem explicação qualquer.
11
Novamente se mudou
Após aquele ocorrido.
Ficou bastante abatido
Com "desmanche" do seu lar.
Tempos depois viu chegar,
Com Joana, mais um filho
Quando já era andarilho
Por todo o seu Ceará.
Qualquer cidade a cruzar
Já não era um empecilho.
12
No ano setenta e três
A fronteira cruzaria
E foi visto na Bahia
Já em peregrinação.
Tinha a determinação
De quem tem objetivos
E dava muitos motivos
Para alguém acreditar
Que promessa ia pagar
Aqui no mundo dos vivos.
13
Essas pesquisas eu fiz
Porque algo me faltava
Nenhuma "fonte" explicava
Um fato muito importante.
Aquela imagem "intrigante"
Que planejou "Conselheiro".
O comerciante e obreiro
Que "bolou" um "visual"
Que fascinou sem igual
No cenário brasileiro:
14
De barba e grandes cabelos
Alto e magro de feição
Com batina de azulão
Nos pés sandálias de couro.
Imagem de bom agouro
Só andava de bastão
E na cintura um cordão
Com enorme crucifixo.
Naquela imagem me fixo
Procurando explicação.
15
Não bastasse aquela "imagem"
Tinha um certo ritual.
Era caso habitual
Pedir ao rico pro pobre.
Essa atitude tão nobre
Dava mais o que pensar
E só fazia espalhar,
Pelo sertão, sua fama.
Aquilo era uma trama
Difícil de destrinchar.
16
E nesse ponto eu parei
Pensando o que fazer.
- Continuar a escrever
Sem essa luz clarear?
Refletindo, fui deitar
Tava cansado e dormi
E no sonho eu consegui!
É que nesse sonho meu
Conselheiro apareceu
E me contou tudo...*ali.
17
- *O fato que quer saber
Eu fiz de caso pensado,
Depois de ter estudado
A mente do sertanejo
Eu auscultei seu desejo
Para a minha atuação.
Fiz essa "transformação" -
Trabalho de marqueteiro.
No Brasil fui o primeiro
A ter essa profissão.
18
- Ocorreu no Ceará
A desavença cruel
Da família Maciel
Com todos os Araújo.
Não havia um só refúgio,
Isso marcou gerações,
Ensanguentou os sertões
Com morte de vinte e cinco.
Eu rezei com muito afinco
Pra cessarem as agressões.
19
- Nessas minhas orações
Fiz promessa benfazeja:
Construir uma igreja
Pra cada morte ocorrida.
E que toda essa ferida
Viesse a cicatrizar
Que jamais no Ceará
Reinasse a desarmonia.
Vim pro sertão da Bahia
Meu sonho concretizar.
20
- O final da minha história
Você já sabe de sobra
Em todo tipo de obra
Escrita por bacharel
Em folhetos de cordel
E teses de doutorado
Já tive o crânio estudado
Pra saber se fui normal.
Pois na busca do "ideal"
Vi meu povo trucidado.
21
- Eu só pretendia erguer
Essas casas de oração
E não sei por que razão
Parei no Vaza-Barris.
Por um capricho infeliz
Construí uma cidade
Que teve a capacidade
De se auto-sustentar.
Todos corriam pra lá
Para o lugar de igualdade.
22
- Canudos em quatro anos
Lá no sertão era a tal.
Foi notícia de jornal -
E incomodou a Nação.
E o presidente de então,
O Prudente de Morais,
Despachou seus "federais"
Para nos aniquilar.
Conseguiram consumar
E o fato foi pros anais.
23
- Não cumpri minha promessa,
Parei lá pela metade.
Não tive a serenidade
Cresceu minha empolgação.
E essa minha ambição
A mente me confundiu.
A morte me consumiu
E para meu desconforto
Cada um parente morto
Vi multiplicar por mil.
24
- Cheguei ao Terceiro Céu
Bem no dia que morri.
E o Comitê dali
Decretou na ocasião
Que para minha ascensão
Por cem anos vou purgar.
Agora você saberá
Como foi a minha morte...
- Por um capricho da sorte,
Alguém veio me acordar!
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